ENTREVISTA COMPLETA DE ROBERT PATTINSON PARA O "THE GUARDIAN"



Robert Pattinson: 'Eu quero estrangular quem inventou R-Patz"


“Eu não sei mesmo o quanto eu me aceito,” diz Robert Pattinson enquanto bebe um trago de Coca-Cola. “Quase nada me interessa a não ser as pessoas que fazem críticas negativas. É basicamente isso. É isso que me move para o que eu faço a seguir. É engraçado, nós apenas nos concertamos por causa dos críticos e do próximo filme. É a única coisa em que pensamos quando saem os filmes.”


Para alguém que tem o mundo a seus pés – ele faz parte da Saga Crepúsculo e também do drama de David Cronenberg, Cosmopolis – Pattinson dá a impressão que é uma pessoa cheia de dúvidas em relação a si mesmo. “Eu nunca me levei a sério como ator,” diz, diretamente de um avião vindo da Alemanha, onde, como reparou, todos parecem detestá-lo.

“É surpreendente a quantidade de pessoas que pensam que eu sou estúpido,” diz. “Eu acho que eles acham que cada pessoa que faz um filme para adolescentes é um idiota. Não sei, talvez seja. Alguns dos melhores atores, se falarmos com eles, não são as pessoas mais inteligentes da face da Terra.”

Eric Packer, o personagem de Pattinson em Cosmopolis não é estúpido. O filme, uma adaptação do livro de Don DeLillo de 2003 passa-se maioritariamente na limousine de Packer, e é sobre um financeiro que ou está prestes a fazer sexo, ou vai fazer um exame à próstata, ou a terá monólogos enormes, ou a perderá quantidades enormes de dinheiro, ou fugirá de um assassino, ou tentará cortar o cabelo, ou ainda tudo isso junto. O filme saiu este ano no festival de cinema de Cannes. A maioria das críticas têm sido positivas, particularmente a favor de Pattinson, mas honestamente, poderia ter acontecido precisamente o contrário. Não é propriamente o filme mais fácil de todos.

“É engraçado. Teve opiniões tão distintas em Cannes,” diz Pattinson, antes de confessar que ele próprio esteve compulsivamente à espera dessas opiniões. “Eu estava sentado no carro na volta da conferência de imprensa, sempre, sempre, sempre atualizando o meu celular. Eu nunca tinha feito nada em que as pessoas odiassem ou realmente gostassem. É tão diferente dos outros filmes, e foi essa a razão pela qual eu decidi fazer. Eu li o roteiro e pensei, ‘Vamos mesmo fazer isto? Isto é num carro, onde se fala tanto de economia experimental, e vai ser lançado para os cinemas?’ Mas acho que é importante, eu voltaria a fazer este tipo de filme outra vez. Há uma coisa estranha que tem acontecido em que a única coisa que pode estar no cinema é um filme de super-heróis que custou 250$ milhões para fazer. É a coisa mais ridícula.”

Claro, Pattinson também já teve a sua conta em coisas ridículas. Ao fazer o vampiro abstémico Edward Cullen na Saga Crepúsculo (o último filme sai em Novembro) Pattinson já fez a Summit Entertainment ganhar 2,5 biliões de dólares e levou-o a tornar-se num sex symbol mundial para as adolescentes. Ultrapassar o marco que foi esse papel não será fácil, e esta não é a primeira tentativa de Pattinson nesse sentido.

O filme Bel Ami neste ano, a adaptação do livro francês de 1885 que, como Pattinson diz, “veio e foi”, e Água aos Elefantes (2011), outra adaptação desapontante de um livro no qual co-protagonizou com Reese Witherspoon como veterinário de um circo. Nenhum desses filmes o ajudou a entrar no “mainstream” da representação. Agora é Cosmopolis, num papel que Pattinson parece igualmente emocionado e espantado.

“Eu nunca tinha feito nada disto antes e, nunca tinha percebido o porquê,” diz Pattinson, 26 anos, agora a mastigar um palito, em parte para tirar os restos de uma sandwich de queijo e, por outro lado, para acabar com o vício do cigarro.

“Eu estava sempre perguntando ao David, ‘O que é que você pensou?’ Eu só lhe dizia, ‘Não torne isto apenas numa questão de dinheiro.’” Faz uma pausa. “Mas nós precisamos tentar mudar a credibilidade nas pessoas, porque elas estão sempre julgando tudo. A partir do momento em que criamos uma impressão, é isso que teremos. Eu estava planejando cerca de dez anos para o papel se desvanecer, por isso chegar a Cannes no ano em que o Crepúsculo acaba é quase ridículo.”

Cannes, ao que parece, significou muito para Pattinson. Enquanto ele e a sua namorada Kristen Stewart, a sua co-protagonista na Saga Crepúsculo, tornaram-se numa obsessão para os fãs e para os paparazzi, podemos ver que ele ainda tem algumas coisas a resolver com a sua fama. O galã relutante, veste hoje um chapéu preto, uma camisa cinzenta por cima de uma t-shirt branca, umas calças pretas e um ténis também preto. Não há nada nele que lembre uma superestrela. Nem muito a confiança que poderíamos esperar em alguém que subiu ao topo de uma das indústrias mais competitivas do mundo.

“Todos gostaram de History of Violence and Eastern Promises, mas é muito mais acessível que isso,” diz. “Isso me fez ficar nervoso, porque eu pensei que todos iriam querer ver o Viggo Mortensen matando as pessoas, e este filme é basicamente estar sentado conversando sobre os mercados financeiros. Mas as primeiras críticas foram bastante boas, e eu nunca tinha sentido isso num filme. É definitivamente o filme com melhores críticas que alguma vez tenha feito. Na maior parte das vezes, eu não as leio, especialmente os filmes do Crepúsculo, onde as pessoas são logo levadas pela opinião que têm acerca da relevância cultural que possa ter. Mas com este, eu leio tudo, e fiquei aterrorizado".

Cosmopolis, sem nenhum objetivo concreto, veio a se encaixar perfeitamente na época em que foi feito. Assim que começaram as gravações, começou o movimento “Occupy” em Wall Street. No filme, Packer viaja por Nova Iorque, protesto atrás de protesto com base nos ideais da sociedade capitalista. Na vida real, Pattinson via as imagens que gravava serem espelhadas nos canais televisivos.

Uma vez mais, contudo, as suas lembranças pautam pela ambivalência. “Eu me lembro quando o movimento esteve L.A.,” diz. “Eu conhecia alguns dos atores que estiveram lá. Eles conduziram até lá, porque ninguém vai de comboio, e pararam uma semana antes, porque eles não queriam ser vistos  conduzindo os seus Audis, e depois entraram no comboio. Eu pensei, ‘O que é que estão fazendo? Vocês vão acabar por arruinar o sentido disto tudo!’ Eu penso que funciona como uma bolha; nós queremos dizer as coisas, mas estamos sendo hipócritas. Eu nunca estive numa posição que me permitisse dar a minha opinião sobre política. Mas, de repente, temos de ter uma grande responsabilidade."

A carreira de Pattinson até agora não lhe tem dado a oportunidade de desenvolver um equilíbrio entre um público com a sua idade, ou mais velho. Mas Pattinson é também uma escolha interessante para Cronenberg. Um dos seus filmes mais recentes, A Dangerous Method, tinha Michael Fassbender  espancando Keira Knightley, enquanto Viggo Mortensen analisava cada movimento (Mortensen, obviamente, um dos preferidos do realizador). Mas, da maioria das entrevistas de Cronenberg, parece que ele não se arrepende nem um pouco de ter retirado Pattinson dos sonhos de adolescentes para um filme sobre um assunto tão complexo. E enquanto Pattinson admite que entrar no roteiro não tenha sido fácil, conseguimos perceber que ele espera que o seu compromisso justifique o risco corrido por Cronenberg por mudar a sua carreira.

“Quando consegui este papel,” diz, ajustando o seu chapéu, “todos os artigos que saíam diziam, ‘a luta de R-Pattz por credibilidade!’; eu não consigo compreender quem inventou isso, ‘R-Pattz’, eu só quero estrangulá-lo. Mas assim que avançamos nesse sentido, as coisas são, ‘R-Pattz continua na luta por credibilidade!’ Nós temos de arranjar alguma coisa, para que se torne mais fácil para nós. Eu nunca prestei nos castings. Desde o Crepúsculo, fiz dois. Um deles foi para um projeto que estou agora fazendo e foi bastante difícil. Dois grandes castings onde foram muitas pessoas. Fiquei contente por ter ficado com o papel. E foi somente por causa de Cosmopolis que eu pensei, ‘Você consegue fazer isto como ator, em vez de ser o rapaz do Crepúsculo, porque agora já tem mais valor.’”


Por todas as críticas positivas que são feitas, as negativas é que marcam Pattinson. Mas se a nossa conversa vale alguma coisa, é pelo fato de ele não se censurar tanto com o fato de ser a cara de um franchising enorme. Se ele fizer isso, vai conseguir divertir-se mais.

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