FANFIC - O CONTRATO - CAPÍTULO 35

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Um plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Bella é envolvida em um esquema criado por Edward Cullen acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Edward precisava casar para poder herdar a sua parte que lhe cabe na empresa do pai e, após seduzir Bella fazendo a mesma se casar com ele, mostra sua verdadeira face. Agora, casados, terão de enfrentar um casamento que é uma verdadeira farsa, mas será que Bella poderá transformar seu casamento em algo real e digno de conto de fadas?



Autora : Jacqueline Sampaio
Classificação: +18
Gêneros: Romance
Avisos: Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo





Capítulo 35



Bella pov’s


Eu não queria deixá-lo, mas não poderia negligenciar o meu trabalho, afinal de contas eu já havia faltado na segunda sem quaisquer justificativas. Olhei mais uma vez para Edward, que dormia profundamente na cama dele. Suspirei. Eu parecia uma mãe de primeira viajem quando, após passar alguns meses dedicando-se exclusivamente ao bebê, tinha que voltar ao trabalho e deixá-lo aos cuidados de outra pessoa. Aproximei-me da cama, sentando na beirada e ficando próxima a ele. Segurei a barra do edredom e o puxei para cobri-lo melhor. Eu afaguei gentilmente seus cabelos acobreados, desejando que a minha carícia chegasse ao mundo de sonhos onde ele estava agora para acalentá-lo nesse momento de dor. Por fim levantei, sabendo que não poderia protelar mais.

Foi estranho voltar ao meu quarto, ainda que para tomar um simples banho. Foi estranho abrir o meu closet, pegando peças de roupa dadas por Alice que eu deixara no apartamento de Edward após a nossa separação. Aqueles simples atos que eu costumava fazer quando tudo estava bem mais pareciam lembranças embaçadas de dias felizes que nunca voltariam. Era doloroso pensar que tudo estava mudando rápido demais e as coisas que ocorriam durante a mudança não eram nada boas. Isso fazia com que eu sentisse um medo estranho, de que ficasse ainda pior.
–Bom dia Bella. –Um coro de vozes femininas me recepcionou ao passar pela cozinha. Ergui os olhos, que antes fitavam o chão, e encontrei Magdalena e Eli. Por alguns instantes, enquanto eu era calorosamente recebida, senti como se estivesse no passado. E então a realidade voltou rapidamente, desfazendo as lembranças. Isso por que eu pude ver pelas expressões faciais das duas que elas já sabiam.

–Bom dia meninas. –Respondi sem muito entusiasmo.

–Soubemos o que aconteceu... –Começou Magdalena. –Fomos inclusive ao enterro. Queríamos ter comparecido a missa na igreja, mas os seguranças deixaram poucas pessoas entrarem, cujos nomes haviam sido colocados em uma lista.

–Mas não encontramos o senhor Cullen para darmos as condolências. –Completou Eli, postada ao lado da mãe. As duas pareciam tristes, apesar do escasso contato que tiveram com Alice. Tristes e preocupadas com Edward, tal como eu estava.

–Ele estava cercado por pessoas e depois, quando conseguiu algum espaço, foi embora. Até eu tive dificuldades para falar com ele.

–E o senhor Cullen deve estar descansando agora, eu suponho.

–Sim Eli. Edward está dormindo e eu gostaria que o deixassem descansar por mais algum tempo. Após duas horas, mais ou menos, levem café da manhã para ele. E... Bem... Talvez seja melhor fingirem que nada sabem a respeito das mortes de Alice e Jasper. –Talvez evitar o assunto fosse bom para ele, mas eu acreditava sinceramente que eu estava me iludindo ao pensar dessa forma.

–Nós entendemos. –Disse Magdalena, colocando uma mão no ombro da filha.

–Eu preciso ir trabalhar. À noite virei dar uma olhada nele. Se algo acontecer, liguem-me. Vocês ainda têm o meu contato, não é? –As mulheres assentiram. –Foi bom revê-las. –E era mesmo bem ver dois rostos familiares e queridos em meio aquele caos.

–Nós também ficamos felizes em revê-la e por saber que você pretende ficar por perto. Não será nada fácil para o senhor Cullen e eu acredito que a única pessoa que de fato pode ajudá-lo é você. –Os olhos de Magdalena, com aquele estranho brilho maternal, deixaram-me embasbacada. Eu senti, naquele momento, a pressão da situação. Somente eu poderia ajudá-lo... Somente eu.

Eu continuei com aquele pensamento durante todo o trajeto até a empresa, esquecendo-me, inclusive, de tomar o meu café. Passei na sala do meu chefe, explicando o que havia acontecido. Felizmente ele pareceu acreditar e acho que minhas olheiras pela noite insone contribuíram para a credibilidade de minhas palavras.

Ao chegar a minha mesa, Jessica já estava lá. Pela expressão aborrecida no seu rosto e os olhos fixos em mim, ela sabia das mortes dos meus ex-cunhados. Enquanto eu sentava em minha cadeira, murmurando um bom dia, ela disse:

–Eu soube pela imprensa. Você deve estar meio deprimida, não é? Apesar de ela tê-la sacaneado legal, a Alice tinha um gosto ótimo para roupas e deu todos aqueles presentes para você no passado e... –E o discurso materialista de Jess, que costumava causar bom humor em mim no passado, foi demais.

–Quer calar a boca? Não quero ficar ouvindo merdas como essa! Eu estou deprimida, mas é por que eu gostava deles dois e não por que Alice me dava bons presentes. Quem você pensa que eu sou? Acha que eu sou superficial como você? –Minha voz estava mais alta do que o normal, minhas mãos tremiam e eu olhava com fúria para Jess. Ela ficou assustada com minha explosão e murmurou um “desculpe-me” fraco demais. Virei meu acento e fiquei de frente para o computador, ignorando ela por vários minutos, querendo estar em qualquer outro lugar, menos naquele espaço dividido com Jessica. E Jess, inflada pelo seu orgulho, embora tenha me pedido desculpas, ignorou-me. Dane-se, pensei. Eu fui rude, mas ela foi ainda mais absurda com o seu comentário. Trabalhei por vários minutos sem pestanejar, a fim de evitar encará-la e também para pensar em outra coisa que não fosse Edward e sua família morta.

Impossível.

As cenas dos dias felizes com Alice e Jasper vinham me atormentar. O sorriso genuíno de Alice, as palavras sábias que Jasper volta e meia dizia para mim... Deus, eu não teria mais nada disso! E se para mim estava sendo tão ruim, para Edward devia estar sendo o inferno na Terra. E fiquei preocupada com ele. Edward teria tomado café? Alguém estaria substituindo ele na empresa? Ele estaria melhor? Sairia de casa? O que ele estava fazendo agora?

Após o divórcio, eu havia decidido me afastar de minha antiga vida e de todos, ou quase todos, que faziam parte dela. Esta resolução, porém, não era mais aceitável. O que eu faria agora? Edward tinha Aro para cuidar da empresa e Magdalena e Eli para cuidarem do apartamento, mas quem cuidaria dele? Quem o consolaria nesse momento difícil? Quem cuidaria para que ele não perdesse o seu brilho natural? Quem recuperaria seu sorriso e o seu bom humor? Eu não me via capaz de tais coisas, não era forte o suficiente. Só Deus sabe que ainda sofro com a perda dos meus pais e nunca sorri como antes. E o mesmo provavelmente aconteceria com Edward. Eu não iria mudar isso, mas poderia tentar, não poderia? Talvez, em minha tentativa, eu pudesse dar um pouco de felicidade a ele.

Não foi fácil me concentrar no trabalho, mas consegui com algum esforço. Pretendia trabalhar um pouco a mais do horário como forma de compensar minha falta. Após o expediente, eu passaria no apartamento de Edward... Talvez dormisse lá...

Meu celular toca. Como o barulho não era o de uma chamada eu ignorei.

...

–Vocês brigaram? –Ben perguntou ao ver que Jessica estava sentada em outra mesa, fingindo falar com alguém ao celular. Ela saiu antes de mim e sentara em uma mesa afastada. Eu poderia ter sentado ao lado dela e puxado assunto, acabando aquela briga, mas não estava com vontade.

–Algo assim. Hoje estou mal humorada demais para tolerar os comentários idiotas da Jess. –Dei uma garfada na minha macarronada.

–Ah, Jacob estava procurando por você essa manhã. Ele chegou de uma viagem de negócios ontem à noite. –Ben falava despreocupadamente. Ele não sabia, claro, da confusão que era a minha vida com Jacob, Edward e tantos outros envolvidos.

–Hmmm... Eu ainda não o vi. Estive muito ocupada. Se você falar com ele... Diga que ele pode vir a mim quando quiser. –Murmurei, sem saber o que dizer. Eu precisava pedir desculpas a Jacob pelo ocorrido. Nada mais. Eu não queria me envolver mais com ele, não queria que Jacob sofresse pelos meus problemas. Ele merecia paz e eu daria isso a ele. Edward merecia consolo e eu também daria isso a ele. E eu... Bem... Eu não me importava comigo, sinceramente.

Meu celular toca e sei que dessa vez não é aquele estranho barulhinho que anuncia a chegada de alguma mensagem de texto ou de voz.

–Eu preciso atender. –Digo a Ben, levantando da cadeira e pegando o meu celular dentro da bolsa. Afasto-me um pouco da mesa onde a pouco almoçava e aperto no botão para receber a ligação. –Alô?

–Bella, sou eu a Magdalena.

Magdalena? Por que ela estava me ligando? Não, será que...

–O que houve? –Perguntei com a voz trêmula.

–É o Edward. Você precisa vir para cá. –A voz de Magdalena era urgente e logo entendi: algo muito ruim tinha acontecido para ela me ligar. Eu não perguntei o que havia acontecido, eu não precisava.

–Eu já estou indo. –Disse e desliguei pouco depois. Não expliquei nada a Ben ou a Jessica, que olhou confusa para mim quando passei correndo por ela.

Tudo estava fora de foco. Tudo estava abaixo, por que Edward era a minha prioridade agora.

...

Elas estavam conversando com Erick, o porteiro do prédio onde Edward morava. Entrei ofegante no local, olhando para todos os lados.

–Onde ele está? O que aconteceu? –Além do cansaço físico pela corrida, eu estava à beira de um colapso de tão nervosa. Olhei para todos os lados, mas Edward não estava presente.

–Acalme-se Bella. –Magdalena pediu. –Ele não está ferido nem nada disso.

–Então o que houve? –Meu corpo inteiro tremia. Eu temia que elas dissessem algo como “Edward fez uma besteira consigo mesmo”. Eli parecia incomodada em falar então deixou a tarefa novamente para a mãe.

–Ele nos expulsou do apartamento. –Magdalena disse firme. Com essa eu tive que engasgar de surpresa. Por que diabos Edward faria algo assim? Antes que eu pudesse perguntar por mais esclarecimentos, Magdalena prosseguiu. –Quando o encontramos, ele estava bebendo. Nós tentamos impedi-lo e fazer com que ele se alimentasse, mas Edward não aceitou. Ficou aborrecido com a nossa intervenção e nos expulsou. Não pretendíamos sair, mas ele ameaçou ligar para a polícia.

–Ele...? Não acredito nisso... –Eu não podia acreditar que Edward tivera uma atitude tão extremada com pessoas tão legais quando Magdalena e a filha. Agora eu entendia o desconforto das duas, sentindo certa humilhação pelo comportamento agressivo dele.

–O senhor Cullen não está bem. Não poderemos ajudá-lo. –Eli disse timidamente.

–Vá Bella. Tente ajudá-lo. –Magdalena ordenou. Eu assenti e fui em direção ao elevador. Procurei a cópia da minha chave, que me esquecera de devolver a ele desde nossa separação e que havia encontrado um dia antes de assinar os papéis do divórcio. Pretendia devolve-la através do meu advogado, mas agora...

Não gostei nada do silencio naquele apartamento. Liguei os interruptores, olhando envolta. Tudo estava limpo e arrumado, como Magdalena e Eli haviam deixado, mas algo não estava bem.

–Edward? –A sala estava vazia e falei mais alto. –EDWARD? –Ninguém respondia ao meu chamado e isto fez o meu desespero aumentar exponencialmente.

Eu o procurei em boa parte dos cômodos, deixando estrategicamente o quarto dele por último. Ao entrar naquele aposento, eu ouvi um barulho vindo do banheiro. Corri para lá a toda, tropeçando em meus próprios pés. Eu o vi sentado no chão, com a cabeça encostada no vaso sanitário. Edward vomitava muito e uma garrafa de bebida alcoólica estava ao seu lado, vazia. Olhando aquela cena deprimente, contive nos lábios para perguntar “O que você tem?”. Aquela altura eu sabia o porquê de ele estar passando mal. Suspirando audivelmente, voltei ao quarto, deixando minha bolsa e o meu casaco em cima de uma poltrona preta. Retornei ao banheiro, pegando a garrafa de Vodka e jogando o conteúdo que sobrara na pia, colocando a garrafa na lixeira logo depois. Ajoelhei-me ao lado dele, passando uma mão em seus cabelos acobreados em desalinho e ganhando sua atenção. Ele estava pálido e suava frio. Seus olhos cor de ocre me fitavam meio fora de foco enquanto sua cabeça estava deitada na beirada do vaso sanitário. Edward respirava aos arquejos, provavelmente estava a algum tempinho vomitando. Pelo menos, pensei, boa parte da Vodka saiu do seu organismo.

–Hei... Eu vim assim que Magdalena e Eli me avisaram. Você ainda está com vontade de vomitar? –Perguntei, querendo apenas instigá-lo a falar. Ele assentiu fracamente. –Eu vou buscar água e algo doce para você comer. –Minhas mãos continuaram a acariciar timidamente seus cabelos. Por fim eu levantei, deixando-o sozinho por alguns minutos enquanto rumava para a cozinha. Peguei um grande copo de água, um remédio em gotas contra enjôo (que coloquei prontamente dentro do copo de água) e um copo de suco de laranja.

Edward continuava na mesma posição quando retornei, mas pelo menos sua respiração estava mais normal.

–Tome. –Eu me ajoelhei novamente, passando o copo de água para ele. Edward estava tão debilitado que nem conseguia segurar o copo, então eu o segurei para ele, fazendo-o beber todo o seu conteúdo. Em seguida foi o copo de suco de laranja, algo doce e ao mesmo tempo liquido. Fiquei satisfeita por ele beber o conteúdo do que eu trouxera sem pestanejar.

Olhei atentamente para ele, constatando que ainda não havia tomado banho, estando ele com o mesmo pijama de ontem. Evitei olhá-lo por mais tempo, pois aquela imagem era decadente demais. O Edward de agora contrastava terrivelmente com o Edward que eu conheci, pois toda a beleza, vigor, alegria e tantos outros adjetivos destinados a ele antes pareciam estar se esvaindo. A estrela dele estava se apagando a cada hora, graças ao incidente com a irmã e o cunhado. Tal fato era apavorante para mim e temi que eu não conseguisse fazer muito por ele.

Como tirar um homem do fundo do poço se foi ele que se jogou lá e lá quer permanecer?

–Você precisa de um banho. Venha, eu vou ajudá-lo. –Tentei retirar sua camisa, mas Edward se afastou minimamente.

–Eu quero deitar... –Murmurou. Seu hálito tinha um cheiro forte de bebida e pelo modo enrolado como falava ele ainda estava sob o efeito do álcool.

–Vai poder fazer isso depois de um banho e ingerir um pouco de comida. Venha. –Retirei sua camisa rapidamente. Em seguida eu o ajudei a ficar ereto, guiando-o até o Box de vidro. Liguei o chuveiro, ignorando minhas roupas que certamente ficariam molhadas. Edward parecia ter grande dificuldade de ficar de pé, por isso eu decidi ajudá-lo no banho.

Eu já havia sido sua esposa e conhecia cada parte do seu corpo então era bobagem me sentir tímida em despi-lo. E eu o fiz, retirando todas as roupas que o cobriam sem fixar meus olhos em algum ponto. Deixei a roupa pendurada em qualquer canto, ajudando-o com o sabonete liquido. Sentir a pele dele em contato com as minhas mãos, ainda mais quando me aproximei da genitália, foi o frenesi. Eu me senti quente e imagens e nós dois fazendo amor assaltaram a minha mente. Tentei reprimir todos aqueles pensamentos, afinal não era o momento para tê-los. Claro que não ajudou em nada os tímidos gemidos que Edward produzia, assim como sua latente ereção. Desnorteada com a situação, eu me afastei assim que terminei de ensaboá-lo.

–Eu preciso fazer algo para você comer. Pode terminar o banho sozinho? –Minhas palavras saiam apressadas e por duas vezes eu gaguejei, mas não acredito que Edward tenha percebido meu nervosismo, alto demais das idéias como estava. Fui primeiramente até o seu closet, separando um pijama de seda verde musgo e deixando-o sobre a cama.

Magdalena havia deitado tudo pronto para o almoço antes de ser expulsa do apartamento junto com a filha, sendo assim eu só precisei escolher alguma coisa e esquentar com o auxilio do microondas. O interfone toca e corro para atendê-lo. O porteiro, a pedido de Eli, ligou para saber como Edward estava. Relatei como eu o encontrei e que cuidaria dele, dizendo para elas não se preocuparem em perder seus empregos. Edward estava atarantado demais para pensar com coerência, mas eu colocaria algum juízo em sua cabeça logo e assim as duas poderiam voltar a trabalhar. Elas foram embora depois disso, aliviadas pela minha promessa de cuidar dele e conversar a respeito do que ele fizera com as duas.

Eu confesso ter protelado um pouco na cozinha, beliscando a comida preparada pelas meninas e demorando ao arrumar em uma mesinha de café da manhã o almoço do Edward. Estava envergonhada pelo que acontecera no banheiro. No final, criei coragem e voltei ao quarto, encontrando Edward enxuto dentro do pijama escolhido por mim. Sua aparência estava um pouquinho melhor, mas ele ainda parecia fraco por praticamente não comer nada.

–Trouxe sua comida. –Eu me aproximei com a bandeja, caminhando em direção a cama onde ele estava sentado. Só então notei, enquanto me aproximava, que Edward estava com os olhos inchados e lágrimas caiam deles. A cena me chocou. E eu estupidamente me perguntava se o homem forte que conheci também havia morrido junto com Alice e Jasper.

Larguei a bandeja em cima de uma pequena mesa, próxima a porta, e fui ao seu encontro. Eu o envolvi em meus braços, apertando-o contra mim. Ah, como eu queria extrair todas as dores que o atormentavam! Eu tinha experiência de vida o suficiente para suportar e seguir em frente, diferente Edward. Eu poderia lidar com a situação melhor do que ele.

Edward correspondeu timidamente ao meu abraço, chorando copiosamente. Fiz um gostoso cafuné em seus cabelos enquanto tentava controlar o desespero que grasnava em mim. O que eu faria para ajudá-lo? Como eu faria para ele melhorar?

–Edward... Você precisa comer. –Pedi, com a voz tremula.

–Não quero... –Murmurou em meu pescoço. Seus braços se estreitaram mais envolta do meu corpo. Sua negação em se alimentar mais a ingestão de bebidas alcoólicas era algo preocupante. Eu não estava gostando nada do caminho destrutivo que Edward estava traçando para si. Poderia ser uma visão pessimista demais, os seus familiares haviam morrido há poucos dias. Mesmo assim eu não pude deixar de me preocupar com as atitudes dele, temendo que seu comportamento agravasse sua saúde.

–Edward, eu preciso da sua ajuda. Por favor, não se entregue desse jeito. Entendo sua depressão, mas você não pode permitir que isso afete você desse jeito. –Minhas palavras eram um pedido desesperado para ele reagir. Eu esperava sinceramente que Edward me ouvisse. No entanto eu sabia que a probabilidade de ele me ouvir era pequena.

Por vários minutos eu mantive Edward em meus braços, mesmo após o choro cessar. Acariciei seus cabelos de novo, e de novo, enquanto tentava pescar as soluções daquele problema que me escapavam.

Não saberia dizer se ele ouviu meus conselhos, ou se a fome estava causando um grande desconforto. Edward sentou-se na cama, om o meu auxilio, e prontamente coloquei a bandeja diante dele. Ele comeu vagarosamente, mas pareceu apreciar o prato ofertado. Vê-lo comendo alguma coisa foi um alivio e rezei para que esse esforço continuasse por muito tempo. Teria permanecido naquele aposento, observando Edward comer e recuperar gradativamente as forças, se o meu celular não tivesse tocado.

–Continue comendo. –Pedi, pegando o celular na bolsa e indo ao corredor para atendê-lo. Quando vi de onde era a ligação, previ chumbo grosso. –Alô?

–Onde a senhorita está? Por que deixo o seu posto sem me comunicar? –Era meu chefe e, apesar da voz calma, eu sabia que ele estava com raiva.

–Tive uma emergência. Senhor eu precisei sair.

–E por um acaso essa emergência é com o seu ex-marido? –Ele perguntou e eu prontamente respondi com um sim. –Não poderia deixar outra pessoa resolver isso?

–Senhor, o Edward tem somente a mim. Eu precisei...

–Sem mais desculpas! Não tolerarei desvios de conduta por parte de meus subordinados! Volte AGORA para a empresa! –Eu entendia a revolta do meu chefe, mas o fato de entendê-la não faria com que eu abandonasse Edward. Ele precisava de mim e eu permanecerei ao seu lado pelo tempo que for preciso. O problema era convencer meu superior.

–Senhor, não há mais ninguém que possa ajuda-lo. Eu temo deixa-lo sozinho e meu marido... –Droga! Eu realmente disse marido? -... Não está bem. –Completei, sem me dar ao trabalho de me corrigir.

–Isso não me interessa! –Grasnou o homem do outro lado da linha. –Venha já para cá!

Tudo bem, eu sempre fui uma funcionária exemplar até mesmo quando trabalhava meio período em uma livraria na minha época de faculdade. Eu era desapegada demais dos meus direitos, doando-me por completo aos meus deveres e por vezes sendo explorada por meus empregadores. Agora eu queria algo, queria um retorno pelo meu árduo trabalho.

–Senhor, eu peço para que adiante minhas férias. Caso não seja possível tal coisa então adiante minhas férias sem remuneração. Assino em qualquer documento alegando abrir mão do meu salário desse mês. Por favor, ajude-me! Preciso de uns dias! –Implorei, apelando para o bom senso, para a humanidade daquele homem.

–Venha para cá AGORA ou eu irei demiti-la. –A ameaça veio até mim com a força de um soco! Eu não achei que encontraria tanta dificuldade. Após o meu chefe aceitar os meus pedidos de desculpas por ter faltado, eu não achei que ele seria tão severo. E eu vi, mais claramente do que em qualquer outro dia, dois caminhos a seguir. Um implicava em ter a vida afastada de Edward, e de bônus contemplar sua destruição; o outro era fazer o que eu sempre fiz em toda a minha vida: ser altruísta. Não precisei pensar.

–Prepare a documentação junto ao RH e envie para mim por e-mail. Eu a assinarei e enviarei a sua sala por fax.

–O que é isso senhorita Swan?! –O homem estava quase tendo uma sincope do outro lado da linha, eu pude perceber.

–Eu estou pedindo demissão. –Desliguei o celular, suspirando alto. Pronto, eu estava oficialmente fodida! Sem emprego, tendo que cuidar de um homem depressivo. Mas pelo menos, no dia do juízo final, Deus não poderia me acusar de ter virado as costas para quem precisava. E Alice, aonde quer que esteja com Jasper, não viria puxar o meu pé à noite.

“Não pare para pensar em sua decisão!” –Minha mente ordenou e acatei sua ordem sem titubear. Voltei ao quarto, feliz ao ver que Edward comera tudo e que agora estava de pé, escovando os dentes. Peguei a bandeja e a levei para a cozinha, colocando a louça no lava-pratos e voltando ao quarto. Ele havia se deitado e fitava o teto, ausente.

–Não vai voltar ao trabalho? –Perguntou com aparente descaso.

–Quer que eu saia? –Sentei na cama.

–Não foi isso o que eu disse. Perguntei se voltará ao trabalho. –Limitou-se a olhar para mim de esguelha. Não o olhei, sabendo que ele poderia detectar uma mentira caso eu a pronunciasse.

–Consegui adiantar minhas férias. –Menti. –Quero me certificar de que você se cuidará e para isso precisarei olhar de perto.

Não sei bem que sentimento me dominou naquele momento, sabendo que precisaria ficar ao lado de Edward – um misto de euforia e medo impressionantes. Edward não falou nada, mas eu poderia sentir que me olhava, especulativo.

–Vai até o seu apartamento pegar alguma coisa sua? –Embora as perguntas fossem casuais, eu podia sentir algo mais por detrás do comportamento calmo dele. Procurei ignorar isso, assim como estava ignorando a estranha descarga elétrica que senti pelo corpo quando ele se sentou na cama e seu braço roçou o meu.

–Sim. Gostaria de ir agora. Você se comportaria se eu o deixasse sozinho? –Edward assentiu, deixando-me mais tranqüila. A melancolia, afinal, parecia estar deixando ele mais cedo do que eu imaginara ser possível. Mas quando eu me levantei e vesti o meu casaco, ele pegou o meu braço, apertando-o.

–Vai mesmo voltar? –Seus olhos mostravam um desespero sem igual. Como se eu estivesse prestes a sair e nunca mais voltar.

–Hei, será rápido. Eu nem vou levar a minha bolsa! –Prometi, caminhando até a porta sem virar as costas para ele. Os olhos de Edward e sua postura tensa, no entanto, me manteram ali. Ele parecia estar prestes a ter um ataque do coração! Voltei para o seu lado rapidamente, sentando em frente a ele. Coloquei minha mão em seu rosto, acariciando-o.

–Não fique assim! Olha, têm umas coisas minhas aqui então eu posso usá-las perfeitamente! Você deve estar precisando de um pouco mais de repouso. Descanse. Eu apenas tomarei um banho no outro quarto e vestirei algo mais confortável.

E só depois de prometer isso eu vi Edward relaxar. Mesmo assim, enquanto eu estava no banheiro do meu quarto, pude ouvir passos do outro lado da porta e tive a certeza de que ele estava ali para garantir que eu cumprisse minha promessa de permanecer ao seu lado. Dizer que sua atitude inflou o meu ego seria leviandade, tampouco o sentimento de pena me atingiu como costumava acontecer. Eu me sentia destroçada pelo que Edward estava se tornando, tão diferente do homem por quem eu me apaixonei! E ainda sim, aquela nova faceta fazia meu coração bater erraticamente. Seria simplesmente a pena que me fazia sentir isso ou...

A vestimenta escolhida para usar não foi das melhores. Não havia roupas casuais no meu closet, por isso acabei vestindo um vestido estampado colado ao corpo, meio social. Não me preocupei muito em ficar com uma boa aparência, afinal de contas eu não estava ali para ser um espelho de beleza e assim chamar a atenção dele. Sai do quarto minutos depois, indo diretamente ao quarto de Edward, mas ele não estava lá. Procurando pelos cômodos, eu o encontrei em uma pequena adega que ficava próxima a cozinha. Ele olhava distraidamente para uma garrafa em sua mão. Eu não precisei ler o que estava escrito no rótulo para saber que aquilo era bebida alcoólica.

Edward não notara minha presença, absorvo demais com algum pensamento. Quando fez menção de abrir a garrafa, eu me manifestei. Rapidamente me pus ao seu lado, segurando sua mão.

–Não! Isso não vai resolver seus problemas! –Praticamente gritei, implorando com o olhar para que ele abandonasse a idéia. Os olhos cor de ocre pareciam estranhamente nublados tal qual o dono deles.

–Não resolve, mas me ajuda a esquecer... E isso é ótimo. –Deu um meio sorriso que só aparecia em seus lábios.

–Existem outras formas Edward, formas menos destrutivas. Vamos encontrar um jeito, mas não através da bebida. –Com os olhos fixos na garrafa, ele parecia não me ouvir. Agarrei seu queixo, forçando-me a me olhar.

–Por que está fazendo isso por mim? Você me odeia.

–O que? Não! Claro que não o odeio! Acha que se eu o odiasse eu estaria...

–Aqui comigo? Claro que estaria. Você sempre foi humana demais, passional demais. A pena que sente por mim seria um combustível e tanto para suas ações. –Sua voz e sua expressão facial estavam horrivelmente tingidas de sarcasmo. Não me deixei afetar, porém, pelas suas ações. Eu queria rebater seus argumentos, mas Edward me conhecia bem demais e, acaso eu mentisse, ele enxergaria com absoluta clareza a mentira. Tratei de mudar de assunto a fim de não me complicar com aquela conversa.

–Você está a muito tempo preso aqui no apartamento. Que tal sairmos? –Sugeri, recendo um olhar desaprovador dele pela mudança abrupta de assunto. Com um profundo suspiro, Edward deixou a garrafa de lado, saindo da pequena adega.

–Vá se quiser. Não quero sair. –Caminhou até o seu quarto e fechou ruidosamente a porta.

...

Nada conseguia me distrair, nem a televisão, nem ouvir música... Nada. Edward passou o restante do dia no quarto. Eu levava esporadicamente alguma coisa saudável para ele comer e felizmente não encontrei resistência para a sua alimentação. Edward sequer precisou de alguém para incentivá-lo a se higienizar.

Não falamos muito, ou melhor, cheguei a puxar papo com Edward, mas ele parecia querer me ignorar. Não me deixei ser abalada pelo seu comportamento. A despeito da nossa conversa no inicio da tarde, era natural ele agir daquela forma, aborrecido por eu não responder ao seu questionamento. Mas como eu poderia responder algo se eu nem sabia a resposta? Eu não o odiava, disso eu tinha certeza, mas o que eu sentia naquele momento? Certamente Edward ficaria mais irritado em saber que eu sentir pena dele. Provavelmente ele preferiria o ódio, por causa do seu orgulho. E eu não sabia o que era e sequer desejava descobrir. As coisas já estavam muito loucas por si só para que uma nova incógnita perturbadora surgisse e nos deixasse confusos.

No finalzinho da noite, após me certificar que Edward comera o que eu preparei, ainda que pouco, fui para o meu quarto dormir. A novidade de que eu havia pedido demissão caiu como uma bomba, mas não me dignei a me importar. Eu tinha capacidade para encontrar um bom emprego a qualquer hora, não me preocuparia com isso agora. À medida que as preocupações foram sendo empurradas por mim para algum lugar no fundo da minha mente, fui ficando sonolenta. Meus olhos já estavam fechados e o meu corpo estava estranhamente relaxado quando ouvi o barulho da porta do meu quarto sendo aberta. Quando abri meus olhos, Edward sentava sentado na cama, de costas para mim. Os barulhos que eu produzi enquanto me sentava certamente foram captados por ele, ainda que eu tenha feito o possível para não alarmá-lo. Ainda sem olhar para mim, Edward disse:

–Posso ficar aqui essa noite? –Sua voz era apenas um sussurro na penumbra do quarto.

–Sim. –Disse sem hesitar. Tão Logo Edward deitou-se de lado, de frente para mim. Eu o embrulhei com o coberto e deitei bem próxima a ele, de lado, ficando cara a cara com Edward. Ele se aconchegou em mim, permitindo-me envolve-lo com um braço e mante-lo nos meus braços. Abraçou-me fortemente, enterrando seu rosto em meu peito, não querendo que eu visse o seu rosto, provavelmente.

–Você é muito boa para comigo. Eu fiz tantas atrocidades com você, coisas que fizeram você me odiar e ainda sim...

–Esqueça isso. Esqueça tudo isso. –Pedi, usando o braço que o envolvia para acariciar seus cabelos.

–Eu perdi você. Deus, se eu não tivesse metido os pés pelas mãos...! –Sua voz estava falhando e detectei o inicio de choro. Afaguei mais rapidamente seus cabelos, na tentativa vá de consolá-lo.

–Shhhh... Durma. Não vamos mais falar sobre isso. Sobre nada. –E Edward afastou-se minimamente, olhando-me nos olhos. Estávamos com os rostos tão próximos que eu poderia sentir seu hálito quente nos meus lábios.

Eu não fiz nada por que, sinceramente, eu não queria impedi-lo. Edward se aproximou e roçou sua boca com a minha, beijando-me suavemente. Um selinho mais longo do que o normal, capaz de causar uma série de sensações em todo o meu corpo. Afastou-se, voltando a enterrar seu rosto em meu peito, abaixo do meu queixo. Dormiu mais rápido do que julguei ele ser capaz. Eu continuei horas a fio, acariciando seus cabelos, sem saber o que eu faria.

O que eu sentia pelo Edward agora? Tudo o que eu fazia era motivado pela pena? E se não fosse, o que eu faria?

Em algum momento daquela noite eu adormeci.

...

O Sol estava alto, de alguma forma eu sabia. Olhei desorientada para o quarto iluminado, fechando um pouco meus olhos para a claridade que incomodava. Com uma mão eu tateei o espaço ao meu lado sem, porém, encontrar algo.

–Edward? –Eu o chamei. Ele havia acordado e saído do quarto. O fato de não encontrá-lo fez com que eu levantasse de átimo, vestindo um hobby e seguindo para fora do aposento. Não precisei me mover muito, pois eu o encontrei em seu quarto. Ele estava sentado em uma poltrona preta, de frente para a grande janela do seu quarto. Uma garrafa de vinho estava ao lado dele, no chão, pela metade.

–Merda! Edward! –Dei passos longos, ficando de frente para ele. –Não acredito que você andou bebendo depois...! –E eu me calei ao ver a expressão no seu rosto.

Lembro-me quando comecei a ser maltratada por Edward. Após nosso casamento, no dia seguinte, ele me tratava com uma rudeza insuportável. Ainda sim, eu não sei, havia algo nos seus olhos que fazia com que tudo parecesse uma farsa. E agora, olhando para aqueles olhos que emitiam uma raiva quase homicida, eu sabia que naquele momento o ódio que ele sentia por mim era verdadeiro.

–Pegue suas coisas e saia daqui. –Sua voz era baixa, mas potente o suficiente para que eu ouvisse.

–Edward, o que você...?

–SAIA DAQUI! –Gritou, levantando da poltrona e seguindo trôpego até outra poltrona. Pegou minha bolsa que eu se esquecera de pegar de lá e a jogou no chão. Peguei a bolsa, olhando para ele, atordoada. Edward respirava aos arquejos, descontrolado.

–Edward, vamos conversar. –Pedi, querendo entender o que estava acontecendo. Ele me ignorou.

–Vá até o quarto e vista suas roupas. Quero que saia daqui o quanto antes ou eu chamo a policia!

–PARE COM ISSO! O QUE DEU EM VOCE? –Gritei, largando minha bolsa no chão e encarando-o. Ele abaixou-se, pegando a bolsa, e em seguida me segurou pelo braço, arrastando-me para a sala. Tentei lutar contra ele enquanto protestava, mas foi em vão. Abriu a porta, empurrando-me para fora, fechando em seguida. Atordoada, fiquei prostrada no chão, sem saber o que fazer. O que aconteceu afinal para Edward me tratar dessa forma? O que eu fiz de errado? Eu cuidei dele desde que soube da morte de Alice e seu marido, apenas isso!

A porta novamente abriu e algumas peças de roupa foram jogadas sobre mim. Reconheci as roupas que usei no velório, a muito esquecidas enquanto usava as roupas dadas por Alice.

Edward me lançou um olhar furioso novamente.

–Não volte mais aqui. Esqueça-me! –Falou e fechou a porta na minha cara.

Sentindo-me humilhada e confusa, levantei do chão, pegando minhas coisas. Entrei em uma pequena sala onde o zelador daquele andar guardava o material de limpeza, trocando minha camisola pelas minhas roupas e guardando a peça dentro da bolsa. Um choro irracional me tomou e fiz a única coisa que conseguiria: ir embora.

Eu deveria seguir para o meu apartamento, mas não o fiz. Senti uma estranha necessidade de ir até alguém, falar com alguém. Peguei um taxi, esquecendo-me de ir a minha casa e ajeitar a minha aparência que não devia ser a melhor. Sem pensar, eu sigo para a empresa Cullen, aquela que jurei não por os pés. Eu precisava de alguém, um amigo para conversar. Jess estava perdida para mim, assim como Jacob. Nunca fui muito próxima de Ben ou Mike. E Alice estava morta. Eu não tinha muitas pessoas na minha vida e isso era triste. Espere! Ainda restava uma pessoa, claro que restava!

–Angela! –Eu chamei quando a vi em sua pequena sala, ocupada, lendo um memorando. Felizmente eu consegui, usando meu antigo crachá ainda na minha carteira, entrar sem problemas. Driblei aos funcionários, não querendo me comunicar com ninguém. Segui para a sala dela e eu a encontrei. E agora eu estava diante dela, com o rosto envolto em lágrimas. Angela, quando me viu, apressou-se em seguir até a pequena porta onde eu estava encostada. Eu a agarrei em um abraço, quase a lançando ao chão junto a mim. Após alguns instantes atordoada, senti seu braço pequeno e fino envolvendo-me, afagando com meiguice minhas costas. Eu chorei copiosamente, sentindo uma tristeza me esmagar e ameaçando minha saúde física e mental tal qual fizera com Edward. E mesmo tendo o consolo daqueles braços, algo que Edward não tinha naquele momento, a dor não diminuiu.

...

–Tome. –Ela ergueu um copo de água, passando-o para mim. Com as mãos trêmulas eu o peguei, bebendo rapidamente o seu conteúdo. Angela pegou uma cadeira, arrastando-a para perto, sentando-se de frente para mim.

–Obrigada. –Murmurei após beber tudo, entregando a ela o copo plástico vazio.

–O que aconteceu? –Ela perguntou, jogando o copo em uma lixeira de metal próximo a ela, mas sem tirar os olhos de mim.

–Eu estava com o Edward, cuidando dele.

–Está com ele deste o enterro? –Quis saber, curiosa. Assenti. –E você veio de lá agora?

–Sim. Eu estou... Eu estava cuidando dele. Ang, eu não o reconheço mais. Esse Edward é tão diferente do Edward que eu conheci! Ele quase não dorme ou come. Está usando a bebida como forma de esquecer o que aconteceu. Apesar disso, nós estávamos bem. Ele estava me deixando cuidar dele. Então hoje, do nada, ele me expulsou de casa e ameaçou chamar a policia! –Senti a histeria ameaçando me tomar e respirei fundo, tentando me acalmar um pouco.

–Por que ele fez isso?

–Não sei. Ele expulsou as empregadas dele por que não queria que elas incomodassem. Com isso não havia ninguém para cuidar dele então eu me prontifiquei em fazer isso. Até pedi demissão para ficar com ele, já que o meu chefe não queria adiantar minhas férias. Edward estava bem comigo por perto, obedecendo-me. Estava comendo, ainda que pouco, e não bebia como bebeu da vez em que eu o deixei só. E então, subitamente, ele... –Só de lembrar a atitude agressiva o meu peito doía muito. Voltei a chorar, recebendo um cafuné de Angela.

–Ele deve estar mal, precisando de um tempo.

–Esse é o problema! Angela, Edward fará uma besteira se ficar sozinho! Eu sinto isso! Eu sou a única que pode cuidar dele! Mas agora o que eu posso fazer? Ele me expulsou, sem um motivo plausível, e ameaça chamar a policia. Posso apostar que fará isso caso eu dê as caras no prédio. –Eu tentava, em meio aquela confusão toda, pensar em uma alternativa. No entanto, as idéias para sair daquela situação e tirar Edward da depressão me escapavam. E agora, mais do que nunca, eu me sentia impotente. Como eu poderia ajudar alguém que não quer ser ajudado? E o que eu faria caso Edward se perdesse antes de eu poder fazer alguma coisa?

O choro voltou com força, sem que eu pudesse fazer algo para parar. Angela me olhou com pena, ouvindo aos meus lamentos com atenção e preocupação. Ela não poderia me ajudar, eu bem sabia, mas o fato de me ouvir era reconfortante. Lembrei-me que eu a estava atrapalhando, afinal de contas ela ainda estava em seu horário de trabalho, mas não consegui me afastar. Eu ainda precisava da presença daquela amiga tão querida, rezando para as dores que me atacavam pudessem se amainar.

Angela ficou calada por alguns minutos, olhando o meu choro com tristeza. Por fim eu consegui alguém controle, principalmente após ouvir o toque do meu celular.

–Não vai atender? –Angela perguntou. Eu tirei o celular da bolsa.

–Não é uma ligação. Volta e meia o meu celular faz esse barulho. Deve ser alguma mensagem de voz, mas não sei usar o serviço para ouvi-la.

–Me dê aqui o seu celular. –Angela o pegou, mexendo em algumas teclas do meu aparelho. –Tem duas mensagens de voz para você. Quer ouvi-las?

–Sim. –Murmurei, pegando meu celular de suas mãos. Angela me pediu para apertar o botão OK e eu o fiz, colocando o celular próximo ao meu ouvido. A voz automatizada informou o numero que havia mandado a mensagem, a data e à hora. Fiquei perplexa com os dados antes mesmo de ouvir a tal mensagem. O numero do celular era de Edward e a data era de uma época quando parecíamos cão e gato, brigando quase que diariamente. A mensagem veio logo depois.

Bella, eu espero que você ouça o que eu vou dizer. Bella, eu fiz tantas besteiras, eu sei! Eu não sei dizer o porquê eu agi assim, eu só quero dizer que eu... Se eu disser que, apesar de tudo, eu te amo você acreditaria em mim? Talvez não acreditasse, mas espero que acredite. Eu nunca fui tão verdadeiro.

–Deus... –Afastei o celular do ouvido, olhando para o aparelho.

–O que foi? –Angela perguntou, aproximando mais a sua cadeira da minha.

–É uma mensagem antiga do Edward. Acho que nessa data nós ainda não havíamos nos reconciliado. Nunca ouvi essa mensagem e Edward nunca falou a respeito. –E as palavras que Edward proferira na mensagem me tocaram de um jeito poderoso. Então ele de fato me amava antes mesmo de nós nos entendermos? Isso era surreal demais! Tentei me lembrar com mais clareza do dia em questão, tentando adivinhar o que acontecera para Edward se dignar a mandar aquela mensagem, mas nada me recordei. Angela instigou-me a ouvir a segunda mensagem e prontamente a obedeci. Seria a outra mensagem de Edward? Eu esperei, após apertar a tecla OK... E o que a voz robotizada falou, informando o numero, data e hora da mensagem, me deixou atônica.

–Não pode ser... –Murmurei, com meus olhos fixos no nada.

A última mensagem fora deixada no sábado passado, a tarde.

A última mensagem era de Alice Hale.

Alice pov’s

–Acha mesmo que vai adiantar voltarmos por isso? Eu não acho que Bella irá ceder agora. –Jasper, que olhava para frente enquanto dirigia, disse-me. Nós estávamos voltando para casa, a meu pedido. Não poderia ficar na segurança e conforto da fazenda após descobrir que o mundo do meu irmão estava desmoronando. Suspirei. Meu marido estava coberto de razão, como sempre, mas, como sempre, eu não quis entregar os pontos.

–Preciso tentar fazer alguma coisa! Eu me recuso a ficar de braços cruzados enquanto vejo aqueles dois idiotas jogarem a felicidade deles pela janela como se isso não fosse nada! –Minha bravata em salvar o casalzinho da destruição iminente que a separação causaria pareceu divertir meu marido. Com um sorriso lindo nos lábios cheios, Jasper falou:

–Eu amo isso em você. Sempre querendo fazer algo pelas pessoas que a cercam, mesmo quando nada pode fazer. –E o seu sorriso foi diminuindo, até se tornar uma expressão facial preocupada. –Alice, meu amor, eu acho que está fora das nossas mãos agora. Uma intervenção pode piorar as coisas. Não seria mais adequado deixar um tempo passar e então fazer alguma coisa por eles? Lembre-se o que o Edward pediu a você quando vocês se falaram por telefone, quando ainda estávamos na fazenda.

Eu pretendia rebater seus argumentos, mas Jasper estava certo e eu sentia a necessidade de ceder dessa vez. Ele como o bom advogado que era sempre tinha ótimos conselhos a dar, seja relacionado ao trabalho ou a vida pessoal. E, como sempre, me senti obrigada a, no final, reconhecer que ele estava certo.

–Talvez você tenha razão. Ainda sim... –Peguei meu celular dentro da bolsa.

–O que vai fazer? Não acho que ameaçar a algum deles dará resultado. –Jasper olhou de esguelha para mim, apreensivo com o que eu poderia fazer. Dei de ombros.

–Não farei nada radical por hora. Farei o que me aconselha. Mas também não tentarei pelo menos uma boa conversa. –Disquei o numero da minha cunhada, que infelizmente caiu na caixa postal. Ela certamente me evitaria, temendo que eu tivesse uma atitude mais radical.

–Para quem você está ligando? –Jasper perguntou.

–Para a Bella. Ela não me atende. Acho que deixarei uma mensagem na caixa postal. –Liguei novamente, esperando até cair na caixa postal. Quando isso aconteceu, eu travei. O que eu diria a ela? “Perdoe o imbecil do meu irmão por ter feito você sofrer por dinheiro?”. Eu já havia dito isso milhões de vezes e antes de viajar para a fazenda da família eu acreditei que finalmente a convencera. É claro que algo deu terrivelmente errado.

–Não sei o que dizer. –Murmurei para Jasper, colocando a mão sobre o celular para que minha voz ainda não fosse gravada. Ele tirou uma das mãos do volante e acariciou meu rosto.

–Diga o que se passa em seu coração de uma forma gentil. Talvez isso a alcance de alguma forma. –E dizendo isso, Jasper voltou a se concentrar a estrada.

Não pensei duas vezes. Voltei a colocar o celular no ouvido e soltei o verbo, de uma forma mais comedida.

–Bella... Eu soube da separação. Estou até adiando minha nova lua de mel com Jasper na fazenda para retornar. Não, eu não vou tomar medidas drásticas dessa vez. Tomaria, quem sabe, se Edward não tivesse assinado os papéis, mas agora... Eu amo o meu irmão e amo você. Eu gostaria que os dois fossem felizes juntos. Sei que agora, com a separação, cada um seguirá seu caminho e você poderá encontrar um homem que dará um relacionamento estável, bem diferente do que você viveu com Edward. Mas o meu irmão eu já não sei. Ele a ama tanto que talvez nunca encontre alguém e isso me preocupa! Bella, eu, agora, sou a única que restou para Edward. Algum dia Jasper e eu partiremos desse mundo e, caso o Edward não morra primeiro, ele ficará sozinho. Eu temo pelo meu irmão, temo por que ele é mais frágil do que nós pensamos. Eu sei que eu não tenho direito a isso, mas peço que cuide dele. Perdoe-o e ame-o. Isso pode não ser possível agora, mas pense quando tudo amainar. Por que eu sei que, não importa quando você decidir voltar para os braços dele, Edward estará esperando.

Desliguei o celular, recostando-me no banco do carro. Jasper ficou em silêncio por alguns instantes, mas logo se manifestou.

–Foi uma mensagem bonita. Impossível não tocar o coração dela. –Disse e agora sorria abertamente.

–Acha mesmo? Bella provavelmente vai apagar a mensagem sem titubear.

–Não. Ela vai ouvi-la. –Jasper estendeu uma mão para mim e prontamente eu a segurei, apreciando a macies e a temperatura de sua mão. Sentir alguma parte do corpo do meu marido, ainda que seja um simples toque, era muito prazeroso para mim.

–Eu queria que eles tivessem a sorte que nós temos. –Confessei, apertando mais a sua mão. Jasper virou-se para mim, sorrindo.

–Vamos torcer para isso. –Voltou sua atenção a estrada, ainda segurando minha mão enquanto a outra estava no volante. Sua expressão risonha, porém, mudou abruptamente. Eu olhei para frente, querendo saber o porquê da mudança rápida do meu marido.

Vi uma luz forte e então... Eu não vi mais nada.

Por alguns instantes fiquei consciente de um barulho ensurdecedor, das dores terríveis pelo meu corpo e da escuridão engolindo-me. No entanto eu não fiquei com medo. Uma mão quente segurava fortemente a minha, a mão do meu marido Jasper. Enquanto ele segurasse minha mão, tudo ficaria bem.

Edward pov’s

Só.

Eu bem sabia que seria assim pela manhã, mas uma parte de mim queria encontrá-la ao meu lado. Ah se ela soubesse o quanto eu precisava dela naquele momento! As imagens do pesadelo que tivera minutos atrás eram vividas, e, por isso mesmo, apavorante.

Eu diante de um buraco no chão onde repousava minha irmã, meu cunhado, meu pai e minha mãe. Todos mortos, naquela velha posição em que um cadáver é colocado dentro de um caixão. Se não bastasse estar aterrorizado com a visão dos corpos ali, escancarados, ver Alice abrir os olhos não me ajudou.

–Vem... Tem lugar para mais um aqui... –Murmurou. Alguém, eu não consegui ver, me empurrou e eu caí na cova profunda. Foi nesse momento que eu acordei, desesperado. Tateei a cama, mas não a encontrei. E agora, passados alguns minutos, eu estava lá, jogado de qualquer jeito na cama, perdido.

O que eu faria agora?

A pergunta gritava na minha cabeça, embaralhando meus pensamentos. Eu tinha que trabalhar e receber tudo o que foi de Alice e Jasper e dar um destino a essa herança. Eu tinha que escolher alguém para ocupar o cargo de Alice deixara e seguir com a empresa sem a ajuda de minha irmã. Tanto a se fazer! E mesmo sabendo que precisava agir, eu não conseguia. Eu não tinha forças para sequer erguer um dedo e isso era frustrante! Tão frustrante quanto acordar de um sonho, onde Bella estava ao meu lado, direto para o pesadelo de não ter ninguém ao meu redor. Queria aplacar de alguma forma à dor que eu estava sentindo, o desespero, a depressão. Senti minha boca seca e então a solução veio rápida como um foguete. Beber... Não água. Beber e esquecer. Não seria uma solução para o problema, mas ajudaria com o torpor provocado.

Levantei cambaleante, sentindo-me fraco pelas poucas horas dormidas e pouca comida digerida. Fui trôpego a pequena adega que tinha em casa, algo que dificilmente eu requisitava. Não precisei passar pela cozinha por haver outro acesso ao local, mas fiquei próximo o suficiente para ouvir algum barulho. Esperançoso, eu me afastei da adega e entrei na cozinha por outra entrada, mas o que vi não foi nada animador. Pensei que Bella poderia estar lá, mas eram apenas Magdalena e Eli, trabalhando. Elas não me notaram, sequer tinham conhecimento dessa outra entrada pela cozinha, imaginei. Com um suspiro resignado, voltei à adega, pegando pelos menos três garrafas de bebida alcoólica. Segui para o meu quarto, sem me preocupar em trancar a porta. Abri a primeira garrafa e tomei rapidamente. Não liguei para o que eu sorvia, ou se a quantidade bebida era assombrosa.

Eu não ligava para mais nada, essa era a verdade. Por que eu deveria me importar com algo, até comigo mesmo, se ninguém mais se importava? Acho até que eu estaria fazendo um favor se simplesmente desaparecesse. A empresa ficaria melhor nas mãos capazes de Aro e ninguém se forçaria a mostrar preocupação comigo. E Bella... Qualquer um poderia cuidar dela e deixa-la feliz, até mesmo ela. Seria bem melhor se eu simplesmente não existisse...

E continuei a beber, adorando o torpor me tomar e envolver a minha mente de tal forma que eu não conseguia pensar nos últimos acontecimentos, mesmo que eu quisesse.

...

Minha cabeça girava loucamente e a confusão me impedia de pensar coerentemente. Nem sei o quanto de álcool bebi durante aquele curto intervalo de tempo, mas eu não podia acreditar no quão bêbado eu estava. Talvez eu estivesse mais suscetível a bebida por não ter dormido ou me alimentado direito.

Repentinamente o silencio do meu quarto foi interrompido por batidas frenéticas na porta e vozes me chamando. Procurei ignorar da melhor forma que eu pude, ainda sentado em uma poltrona de frente para a janela. Sorvendo um pouco mais de bebida, tentei simplesmente relaxar, mas ficou difícil com aquele barulho, mais e mais ruidoso a cada segundo. Como um furacão, mostrando uma força que eu não pensei possuir, abri a porta e encarei as duas figuras miúdas em frente a minha porta.

–Por que esse barulho infernal? –Grasnei. As duas, Magdalena e Eli, olharam-me temerosas.

–Estávamos preocupadas. –Disse Eli, sem me olhar nos olhos. –Está na hora do seu café da manhã. Deseja que tragamos para cá? –Continuou. Sua mãe estava calada, mas os seus olhos diziam muito. Ah, ela sabia da minha situação e estava com pena!

–Não quero porcaria de café nenhum! Deixem-me em paz! –Gritei, fechando a porta. Logo em seguida Magdalena entra.

–Senhor Cullen, nós cuidaremos do senhor querendo ou não! –Disse numa voz firme, caminhando até a poltrona onde eu estava sentado e recolhendo as garrafas de bebida que eu havia pegado da adega, uma delas ainda quase cheia.

–O que está fazendo? –Perguntei enquanto ela seguia para o meu banheiro. Entendi o que faria antes mesmo de passar pela porta daquele cômodo. Num rompante, corri até ela, segurando a garrafa que eu não havia acabado. Tal esforço exigiu muito do meu corpo e cambaleei sem firmeza nenhuma até cama, sentando-me. Eli ainda estava na porta, os olhos vagando de mim para a mãe, sem saber como proceder.

Toda aquela atenção me enervou. Eu não precisava de babas! Deus sabe que até estava dispensando os cuidados de Bella, embora uma parte e mim adorasse sua atenção. Se os de Bella eram dispensáveis, imagine então das duas empregadas?

–Olhem para mim! Eu já estou grandinho demais para ter babás. Coloquem-se no lugar de vocês e não me aborreçam! –E mesmo com minhas palavras, Magdalena veio até mim, na intenção de tirar a garrafa de bebida das minhas mãos. Fraco como eu estava não pude impedi-la de pegar a garrafa, mas consegui empregar força nas mãos o suficiente para que ela não levasse. Conclusão de tudo: a garrafa caiu no chão e seu conteúdo derramou-se no chão. Aquilo me enervou.

–SUMA DAQUI! SUMAM VOCES DUAS! SE NÃO SAIREM POR BEM, SAIRÃO POR MAL! –Procurei freneticamente o meu celular e por fim eu o encontrei, pegando-o. –CHAMAREI A POLICIA! –Continuei a gritar, esperando que elas se assustassem o bastante e assim saíssem. Magdalena não pareceu muito impressionada com a minha explosão e certamente permaneceria ali, mas Eli ficou amedrontada pelas duas.

–Melhor irmos. –Murmurou enquanto puxava a mãe pelo braço. Magdalena parecia prestes a protestar, mas algo nos olhos da filha fez com que ela aceitasse ser rebocada para fora. Os barulhos que produziam enquanto se retiravam da minha casa duraram um par de minutos.

Após saírem, o silencio caiu sepulcral em meu apartamento. Voltei à adega, pegando mais uma garrafa de bebida. Joguei meu corpo na mesma poltrona onde estivera sentado no meu quarto e me permiti ser engolido pela inércia.

Se eu estava sendo patético? Sim, eu estava. Dane-se quem pensa assim!

...

Não me lembro de muita coisa depois. Bebi mais do que poderia e meu corpo reagiu como imaginei que reagiria: eu vomitei. Ou acho que vomitei. Lembro-me de estar com a cara na privada e do mal estar sem precedentes que senti. Recuperei um pouco a razão após expelir boa parte da bebida e só por isso eu registrei, após vários minutos, uma nova presença no meu apartamento.

Bella? Era mesmo ela?

–Hei... Eu vim assim que Magdalena e Eli me avisaram. Você ainda está com vontade de vomitar? –Sim! Era a voz dela! Ela voltou! Eu fiquei exultante, mas sequer esbocei alguma reação. Ainda estava jogado de qualquer jeito no chão do banheiro enquanto vomitava dentro da privada. Diante de sua pergunta eu assenti. Ela acaricou meus cabelos, como uma mãe zelosa. –Eu vou buscar água e algo doce para você comer.

Eu não queria que ela se afastasse e estava prestes a protestar, mas Bella saiu, muito provavelmente em direção a cozinha. Minha mente ainda estava lerda e demorei a processar o fato de que Bella viera no momento em que eu mais estava precisando de alguém.

Ela viera no momento em que eu mais precisava dela.

Voltou rapidamente, carregando copos de bebida. Minha respiração estava mais compassada, mas a tontura e fraqueza ainda tomavam o meu corpo. Bella me ofereceu água, mas eu sequer tinha forças para erguer o copo. Com sua paciência infinita, ela me ajudou a beber a água e o suco. Senti sés olhos sobre mim a todo o momento, mas quando eu olhava para ela, Bella olhava para qualquer outro ponto. Por que evitava olhar para mim, eu me perguntava. Talvez por que não queria ver o estado deplorável em que eu me encontrava. Até eu evito o espelho, temendo o que iria encontrar. Um rapaz maltrapilho, mais magro e pálido e com os olhos desprovidos de brilho, certamente. Eu temia tão pavorosa imagem.

–Você precisa de um banho. Venha, eu vou ajudá-lo. –Bella anunciou, já se colocando diante de mim e tentando tirar minha camisa. Um banho seria bom, mas eu estava tão cansado que poderia cair assim que me erguesse. Eu já estava numa posição patética demais, não queria que Bella presenciasse mais atos de fraqueza da minha parte.

–Eu quero deitar... –Pedi, tentando falar com coerência. Embora quisesse absorver a sua presença ali, eu não me sentia forte o suficiente. Talvez depois de umas boas horas de sono eu pudesse ficar mais são.

–Vai poder fazer isso depois de um banho e ingerir um pouco de comida. Venha. –Ela não deu espaço para discussões e eu deixei para lá. Talvez o banho bastasse para me despertar. Como a esposa zelosa que outrora foi, ajudou-me com tudo, despindo-me. Uma parte bem pequena do meu cérebro registrou o fato de eu estar nu e Bella ali comigo. Pensei que ela iria embora assim que as primeiras peças de roupa fossem retiradas, mas ela não o fez. Mais do que me despir, ficou comigo dentro do Box ajudando-me com o banho. Procurei ignorar sua presença e me concentrar no banho, para não constrange-la demais. Impossível. As mãos macias dela tocavam meu corpo com intimidade enquanto espalhava o sabão. Lembrei-me então do passado, daquelas mesmas mãos fazendo algo similar ou mais intenso. Passado e presente mesclaram-se, deixando-me inebriado pelas lembranças e sensações. Gemidos escaparam de meus lábios inconscientemente enquanto eu sentia sua mão mais e mais atrevida, aproximando-se perigosamente do meu falo.

Como eu sentia falta dela! Eu a desejava como nunca desejei mulher nenhuma. Eu a queria para mim, eu sempre a quereria.

O calor das suas mãos se foi e perde-lo foi quase como perder um membro do corpo.

–Eu preciso fazer algo para você comer. Pode terminar o banho sozinho? – Balbuciou nervosa. Sem me dar a chance de responder, saiu do banheiro. Esquiva ela estava sendo e aquilo doeu. Nem mesmo ela eu tinha. Eu não tinha mais ninguém. E o pior de tudo é que eu merecia isso. E tal constatação mais do que obvia me puxou novamente para as trevas.

...

O quão patético uma pessoa pode ficar? Existe um limite para isso? Eu esperava que sim por que, sinceramente, estava exausto da minha situação. Após vários minutos sozinho no quarto, mergulhado na raiva pela minha incapacidade de parar de chorar, ela novamente veio até mim.

Não lembro o que falou, o que carregava nas mãos. Só fiquei consciente dela quando senti seus braços gentis me envolvendo, tentando em vão me consolar. E me repreendi por não aproveitar aquela gentileza dela. Apenas a abracei um pouco, sentindo-me fraco para um abraço mais apertado como eu gostaria. Ainda sim aquele calor que pertencia somente a ela me alcançou. Ah, não havia nada melhor do que estar nos seus braços, apreciando a textura da pele, seu cheiro, o calor do seu corpo e a sensação de lar.

O silencio que nos envolvia era o melhor. Eu preferiria aquilo. Chorei copiosamente, sem vergonha, no colo de Bella, como uma criança quando tem algo precioso tirado de suas mãos e recorre ao colo da mãe. E ela afagou gentilmente meus cabelos e qualquer outro lugar que as suas pequenas mãos alcançavam e aquilo foi tão bom! Era o tipo de conforto que ninguém mais no mundo poderia me dar, além dela.

–Edward... Você precisa comer. –Pediu e pude detectar na sua voz uma forte comoção. Ela era fantástica se ainda tinha a capacidade de se apiedar de mim.

–Não quero... –Eu não queria ganhar forças e me reerguer. Parecia muito mais cômodo simplesmente me entregar, talvez assim eu pudesse mantê-la por perto, pensei. E o egoísmo que eu tanto tentei extirpar ao conceder a separação a Bella voltava com força total.

–Edward, eu preciso da sua ajuda. Por favor, não se entregue desse jeito. Entendo sua depressão, mas você não pode permitir que isso afete você desse jeito. –Seu pedido desesperado para que eu lutasse foi demais. Provavelmente ela era a única que fazia questão da minha permanência neste mundo, por que os demais só se preocupariam em como isso afetaria as ações da empresa. Era apenas um pedido, mas vindo da pessoa mais importante da minha vida. Por ela, apenas por ela, eu poderia não me entregar. Não completamente.

Enquanto o cansaço me tomava pelo tempo em que estive chorando, a comoção foi se acalmando até cessar de vez. Bella, durante esse pequeno tempo, me manteve em seus braços, afagando minha cabeça. Eu quase poderia ouvir seu arrulhar dizendo que tudo ficaria bem no final.

Por fim decidi comer, para a alegria dela. Incrível como o mal estar que me tomava cessou quase que completamente ao ingerir algum alimento. A comida estava gostosa e isso fez com que eu comesse quase contra a minha vontade. Bella ficou quieta diante de mim e poderia sentir a satisfação dela em me ver comendo a comida que trouxera. O silencio foi interrompido pelo toque do celular dela e prontamente Bella o pegou para atender.

–Continue comendo. –Disse antes de sair do quarto a fim de atender a ligação no corredor. Fiz o que me pediu, curioso por saber quem poderia estar ligando. Não perguntaria, pois não era da minha conta, infelizmente. Ainda sim, enquanto comia, fiquei atento a conversa. Nada pude ouvir, mas algo no tom de voz de Bella me dizia que ela discutia com alguém ao celular. Sua ligação só foi interrompida quando eu já havia acabado de comer e escovava meus dentes. Ela pegou a louça suja e saiu sem dizer nada e pela sua expressão, ela parecia preocupada com algo. Talvez fosse algo relacionado à ligação. Voltou ao quarto minutos depois. Eu estava sentado na cama, tentando, em vão, fazer uma especulação sobre a ligação. Quem poderia ser? Alguma amiga? Uma ligação do trabalho? Jacob? Seja quem fosse, poderia ter ligado para chamá-la a algum lugar. E ela iria, deixando-me sozinho?

–Não vai voltar ao trabalho? –Tentei fazer a pergunta parecer casual, mas por dentro eu estava desesperado com a idéia de ficar só.

–Quer que eu saia? –Ela perguntou, interpretando erradamente a minha pergunta. Tratei de me corrigir. Não queria que ela pensasse dessa forma errada.

–Não foi isso o que eu disse. Perguntei se voltará ao trabalho. –Eu a olhei, querendo ler suas expressões e encontrar algo que denunciasse uma mentira, mas eu nada pude concluir quando ela falou:

–Consegui adiantar minhas férias. Quero me certificar de que você se cuidará e para isso precisarei olhar de perto.

Que coisa estranha... Justo quando ela precisava ficar de olho em mim, vieram às férias. Algo estava errado, mas feliz como eu estava com a hipótese dela de fica por um tempo maior ao meu lado, eu ignorei minhas desconfianças. Ainda sim, ela poderia partir sem aviso, e isso me assustava.

–Vai até o seu apartamento pegar alguma coisa sua? –Perguntei, tentando novamente fazê-la casualmente.

–Sim. Gostaria de ir agora. Você se comportaria se eu o deixasse sozinho? –Quando me perguntou, fingi ser corajoso e assenti, mas o temor de ser deixado de lado não passou. Do jeito que eu estava fragilizado, eu poderia acabar fazendo alguma idiotice se ficasse cinco minutos, sozinho. E eu, definitivamente, odiava essa nova condição. Cresci tentando ser uma fortaleza, tal qual o meu pai, e me assustava essa minha nova persona. Por isso quando Bella levantou-se, eu a agarrei pelo braço.

–Vai mesmo voltar? –Não sei o que ela viu na minha expressão, mas foi o suficiente para hesitar.

–Hei, será rápido. Eu nem vou levar a minha bolsa! –Sua promessa de voltar não aplacou o medo. Nada conseguiria aplacá-lo, era bem verdade. E pude ver o olhar aflito de Bella ante aquela difícil situação.

–Não fique assim! Olha, têm umas coisas minhas aqui então eu posso usá-las perfeitamente! Você deve estar precisando de um pouco mais de repouso. Descanse. Eu apenas tomarei um banho no outro quarto e vestirei algo mais confortável.

Como sempre, o pouco que me prometia foi o suficiente para me fazer relaxar. Por enquanto. Mesmo assim eu fiquei perambulando pelo apartamento, volta e meia ia ao quarto de Bella, certificando-me de que ela de fato estava tomando banho como dissera. E enquanto me incumbia de vigiá-la, como um louco, outras certezas me vieram. Bella não poderia passar o resto de sua vida olhando por mim. Ela tinha uma vida para viver e eu deveria deixá-la fazer isso, não é? O que eu estava fazendo era egoísta e mal, fazendo ela perder seu tempo para cuidar de mim. Além disso, pelo que eu sabia, eu consegui a proeza de fazê-la me odiar.

Toda aquela loucura acerca o meu relacionamento com Bella foi demais. Fui para a adega às pressas, precisando de algo para me entorpecer. Embriagar-me não era a solução mais correta, mas o que eu tinha além dessa opção? Olhei as garrafas e o pensamento me ocorreu, do que Alice e Jasper diriam se vissem o meu lamentável estado. Jasper me olharia com aquele estranho misto de solidariedade e desaprovação e Alice... Bem... Ela me xingaria, me bateria e tantas outras coisas mais. Eu não ficaria aborrecido com o seu comportamento violento, pois saberia que era uma prova incontestável do seu amor por mim.

Um gole poderia, quem sabe, me fazer relaxar...

Uma mão, porém, me brecou.

–Não! Isso não vai resolver seus problemas! – Bella gritou comigo, tentando colocar algum juízo na minha cabeça. Seu conselho, porém, não me alcançou.

–Não resolve, mas me ajuda a esquecer... E isso é ótimo. –A promessa de aliviar a dor era tão tentadora que me fez sorrir.

–Existem outras formas Edward, formas menos destrutivas. Vamos encontrar um jeito, mas não através da bebida. –Continuei a olhar a garrafa, em dúvida. Eu não achava que alguma outra coisa seria melhor do que a bebida. Então algo na sua fala chamou minha atenção... Ela usava o “nós”. Por que fazia planos para nós dois, como se ainda fossemos casados? Por que Bella continuava ao meu lado, se a poucas semanas queria distancia de mim?

–Por que está fazendo isso por mim? Você me odeia. –E dizer isto, que ela me odiava, doía demais. Definitivamente eu precisava de uma bebida para passar por tudo isso!

–O que? Não! Claro que não o odeio! Acha que se eu o odiasse eu estaria...

–Aqui comigo? Claro que estaria. Você sempre foi humana demais, passional demais. A pena que sente por mim seria um combustível e tanto para suas ações. – Eu aprendi a conhecê-la como ninguém. Poderia inclusive prever as ações da minha ex-mulher se quisesse de tão previsível que era ela. E não ajudou nada o que ela disse com minha indagação.

–Você está a muito tempo preso aqui no apartamento. Que tal sairmos? –Mudava de assunto, não querendo me magoar com a verdade. Ela me odiava, afinal. Eu não poderia estar mais ferrado.

–Vá se quiser. Não quero sair. –Sai da adega e fui para o meu quarto, procurando refugio do que Bella me fazia sentir. Eu não precisava de mais dor na minha vida.

Não consegui ficar completamente sozinho, pelo menos não por muito tempo. Bella volta e meia vinha ao meu encontro, perguntando se eu queria alguma coisa ou simplesmente trazendo algo para eu comer. Suas tentativas quase desesperadas me fizeram ter compaixão dela e resolvi não criar problemas, fazendo o que me pedia ou simplesmente tomando alguma atitude que a agradasse sem precisar que ela viesse ao meu encontro para pedir. Senti as forças voltarem para mim, mas a sensação de estar mais saudável e a aparente lucidez após beber tanto não me confortaram em nada.

No decorrer da noite ficar naquele quarto, sozinho, estava se tornando insuportável. As paredes pareciam se mover, ameaçando me esmagar. Eu temia também dormir e ter novamente pesadelos como o que eu tivera, vendo minha família em uma cova. Andei pelo quarto, deitei algumas vezes, lavei meu rosto na pia do banheiro, mas nada me fazia relaxar. Pensei até em ir a adega e furtar uma garrafa de bebida, pelo silencio sepulcral na casa imaginei que Bella estaria dormindo, mas lembrar da preocupação dela foi o suficiente para me impedir. Ainda sim...

Abri a porta do quarto e caminhei, ficando de frente para o quarto que um dia foi dela. Bella dormia lá, provavelmente. A hesitação me conteve por poucos instantes, pois logo eu estava no interior daquele quarto, olhando para uma linda mulher adormecida.

Sentei-me ao seu lado e, pelos barulhos quase imperceptíveis que ouvi, ela se acordou. Sabendo o quanto minha atitude egoísta iria prejudicá-la, mas ignorando mesmo assim, eu pedi:

–Posso ficar aqui essa noite? –Eu esperei pela sua hesitação, que não veio.

–Sim.

Ela disse sim.

Deitei-me o mais próximo que pude, sem me importar em invadir o seu espaço. Pude sentir o calor dela tocar meu corpo em ondas, aquecendo-me e provocando certo conforto. Novamente naquela postura de mãe zelosa que só ela tinha, Bella nos cobriu com um edredom. Mesmo sabendo que minha atitude poderia desagradá-la, eu me aproximei mais, desejoso por mais do seu calor.

Bella não protestou com o meu ato precipitado, pelo contrário. Abraçou-me e me permitiu esconder meu rosto em seu peito, enquanto o arrependimento, pelas coisas que fiz a ela, me tragava para o abismo. Sim, arrependimento. Se eu nunca a tivesse ferido, ou se pelo menos eu tivesse contado a verdade, nós estaríamos bem. Eu provavelmente me afundaria no corpo dessa mulher que eu tanto amo e poderia esquecer o horror de estar só.

–Você é muito boa para comigo. Eu fiz tantas atrocidades com você, coisas que fizeram você me odiar e ainda sim... –Ela era humana demais e sua gentileza, ao invés de ajudar, torturava-me. Como um constante aviso de que eu estava colhendo o que plantei.

–Esqueça isso. Esqueça tudo isso. –Desconversou, acariciando meus cabelos. Eu queria esquecer, pensei, mas era difícil sem ela e pior com ela ali por perto.

–Eu perdi você. Deus, se eu não tivesse metido os pés pelas mãos...!

Eu queria voltar atrás e consertar tudo! Eu queria uma segunda chance para ser alguém melhor: para Bella, para meus pais, minha irmã, meu cunhado e a empresa. Essa segunda chance não viria, eu bem sabia, e tudo o que me restava era lastimar.

–Shhhh... Durma. Não vamos mais falar sobre isso. Sobre nada. –Novamente Bella tentava me consolar. Ah, ela era boa! Tão boa! Não existia no mundo mulher melhor que ela. Eu a havia deixado escapar por entre meus dedos e estupidamente me perguntei se era tarde demais. Talvez ainda houvesse chance para nós dois...

Eu me aproximei enquanto minha mente travava uma dura batalha entre o que eu queria fazer e o que eu deveria. Por fim, cansado demais para ser responsável pelos meus atos, eu a beijei, apreciando aquele breve contato. E seu beijo, mais do que ser prazeroso, foi como morfina para aquela dor incomoda que me atacava.

Enquanto caia na inconsciência, eu tive uma certeza quase palpável de que as coisas seriam diferentes pela manhã; melhores, quem sabe.

...

Um barulho? Parecia de um telefone. Quem seria?

Eu não queria sair do lugar onde estava. Bella dormia ao meu lado e, naquele momento, eu sabia que poderia fazer o que quisesse. Não saberia dizer como eu tinha essa sensação, apenas tinha. Eu poderia abraçá-la na cama, beijá-la, tocá-la... Fosse movida pela pena ou por algum sentimento ainda enterrado, ela permitiria.

No entanto o barulho continuava e ela me parecia tão cansada! Bella precisava de mais tempo para dormir e com aquele barulho irritante soando pela casa, ela não conseguiria.

Decidi levantar, relutante, e segui em direção ao barulho no meu quarto. Era o celular de Bella que tocava, no interior da bolsa. Eu o peguei, identificando a ligação como de Jessica, minha antiga funcionaria e amiga dela. Atendi, mesmo sabendo que não poderia fazê-lo, e sequer tive a chance de me pronunciar. Uma voz começou a falar do outro lado, alta e parecendo vinda de alguém contrariada.

–Bella, eu sei que tivemos um desentendimento e tudo o mais, mas como pôde pedir demissão? Se for por causa daquela discussão envolvendo o Edward, me desculpe dizer isso, mas você é bem infantil! Poxa, e pedi desculpas! M explica por que você se demitiu! Se não foi pela briga que tivemos, foi por causa dele, não é? Como você pode se sacrificar tanto, sacrificar o seu futuro, por alguém que só a prejudicou? Você o odiava pelo amor de Deus! A pena é tão grande ao ponto de você fazer essas merdas só para ajudá-lo?

Eu não continuei a ouvir o que a tal Jessica gritava do outro lado da linha. Não precisei. Se havia algum resquício de esperança em mim, se evaporou. A felicidade era algo fugaz de fato e, para mim, durava ainda menos do que para as outras pessoas. Eu soube que eu era um condenado e, se ainda existia alguma humanidade em mim, eu deveria deixar Bella ser feliz. Ao meu lado ela nunca encontrou alegria e não seria agora, no momento mais tenebroso da minha vida, que ela encontraria.

Por amor eu dei o divórcio a ela, esperando que Bella encontrasse a felicidade ao seu modo. E por amor eu iria afastá-la, para que ela não fosse ao fundo do poço junto comigo. Ela não precisava fazer mais sacrifícios.

Eu bem sabia que não seria capaz de fazer algo, de afastá-la, sóbrio. Eu precisava de um incentivo e rapidamente o busquei na minha adega. Bebida poderia entorpecer minha mente, tirar um pouco da lucidez e me transformar no monstro que conseguiria afastá-la de mim.

Eu bebi, sentindo-me um lixo antes mesmo do álcool fazer efeito. Deus, era para o bem dela! Eu precisava ser novamente o Edward terrível que fora nos primeiros meses de casamento para o bem dela! Ainda sim, como u conseguira fazer isso? A dor dela, a minha dor... Nós iríamos nos despedaçar! Eu iria me despedaçar! Não sobraria mais nada de mim quando eu cortasse o laço frágil que havia nos unido após a morte de Alice. No entanto alguém precisava fazê-lo, alguém precisava salvar a princesa das garras do dragão. Quem melhor do que o próprio dragão para livrar a princesa do perigo?

Uma ultima dor. Para ela, não para mim.

...

O barulho do meu quarto foi quebrado por uma voz. Era a voz dela.

Bella... Eu queria dizer o quanto eu a amo. Obrigada por tudo o que você tem feito por mim, mesmo me odiando. Eu queria que essas palavras chegassem ao ouvido dela, mas eu não iria verbalizá-las. Guardaria a verdade dentro de mim seguiria com o script que criei para afugentá-la.

–Merda! Edward! – Ficou diante de mim, furiosa. –Não acredito que você andou bebendo depois...! –Eu a olhei, silenciando-a.

Um. Dois. Três. AÇÃO!

–Pegue suas coisas e saia daqui. – Exigi, numa voz fraca. Fraca como a minha vontade. Que ela não percebesse!

–Edward, o que você...? –Bella estava desnorteada. Depois dos momentos íntimos que tivemos noite passada, era normal estranhar meu comportamento. Nem eu me conhecia.

–SAIA DAQUI! –Levantei, caminhando tropegamente até o local onde ela havia deixado sua bolsa. Joguei suas coisas no chão, na tentativa de mostrar com aquele ato que ela não era bem vinda.

–Edward, vamos conversar. – Seu pedido me fez vacilar, quase.

–Vá até o quarto e vista suas roupas. Quero que saia daqui o quanto antes ou eu chamo a policia! –Usei as mesmas palavras, ou uma adaptação delas, que havia usado com minhas empregadas. Queria parecer intimidador e acho que consegui. Bella parecia aflita com meu comportamento.

–PARE COM ISSO! O QUE DEU EM VOCE? –Largou a bolsa que pegara minutos atrás e eu a recolhi, pegando-a pelo braço e rumando com ela para a sala. Não sei de onde tirei forças para caminhar a passos firmes e arrastá-la comigo. Abri a porta, lançando-a para fora, preocupado em não machucá-la com minha rudeza. Joguei sua bolsa e fechei a porta em seguida.

Respirei fundo, lembrando-me que ela usava roupas intimas. Não poderia deixá-la sair do condomínio sem estar vestida. Voltei ao seu quarto, não querendo encarar aquele espaço por muito mais tempo. Eu ainda precisava de um pouco de força para expulsa-la da minha vida. Abri novamente a porta, encontrando-a sentada no chão, atordoada. Joguei as peças de roupa e proferi as palavras que, com a sua força, me matariam:

–Não volte mais aqui. Esqueça-me!

Quando a porta foi fechada, eu escorreguei até o chão.

Acabou.

Acabou o “eu e ela”.

Só restava uma infinita dor que me corroía o peito e da qual eu nunca me recuperaria.




Continua...




5 comentários:

Val RIBEIRO disse...

ta dificil se acertarem......

tete disse...

que sofrimento desses dois amei tudo foi linda e triste ao mesmo tempo sei que tudo vai dar certo agora beijos e uma otima noite para vce

Unknown disse...

"No entanto eu não fiquei com medo. Uma mão quente segurava fortemente a minha, a mão do meu marido Jasper. Enquanto ele segurasse minha mão, tudo ficaria bem." CHOREI

Bells disse...

Q lindo Alice !
Uma pena essa morte ...Não deveriam ter morrido... ainda estou triste ... :(

Bells disse...

Aff! Alice e Jasper ter morrido foi a pior parte...
Muuito tristee
Mas sei q bella e ed vão ficar bem!

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