FANFIC - O CONTRATO - CAPÍTULO 33

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Um plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Bella é envolvida em um esquema criado por Edward Cullen acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Edward precisava casar para poder herdar a sua parte que lhe cabe na empresa do pai e, após seduzir Bella fazendo a mesma se casar com ele, mostra sua verdadeira face. Agora, casados, terão de enfrentar um casamento que é uma verdadeira farsa, mas será que Bella poderá transformar seu casamento em algo real e digno de conto de fadas?


Autora : Jacqueline Sampaio
Classificação: +18
Gêneros: Romance
Avisos: Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo




Capítulo 33


Bella pov’s


Eu estava no meu quarto, mais precisamente deitada em minha cama. As lembranças da noite anterior eram vagas e, por não encontrá-lo por perto, pensei seriamente se tudo fora um sonho. Espreguicei-me como uma gata; ao olhar o despertador em cima do criado mudo eu sorri. Ainda estava cedo, eu tinha todo o tempo do mundo para me arrumar. Mesmo assim eu procurei ser rápida e eficiente, vestindo roupas casuais e bonitas e usando uma maquiagem bem leve.

Enquanto caminhava para a sala, eu senti o cheiro de café, algo que estranhei. Não precisei entrar na cozinha para vê-lo. Ele bebericava uma xícara de café, sentado no sofá da sala. Surpresa por ainda encontrá-lo por lá, disparei:

–Edward, o que está fazendo aqui?! –Perguntei sobressaltada. Seu rosto, que antes transmitia cautela, deixou claro seu aborrecimento. Deixou a xícara que bebericava em cima da mesinha de centro e voltou a me olhar.
–Não faça isso, por favor. Você bebeu ontem, mas não o suficiente para esquecer tudo o que aconteceu. Noite passada nós jantamos e você me deixou ficar aqui. –Ele estava com raiva e nervoso, com toda a razão. Eu me perguntei se alguma vez fiz isso com ele, fingir que nada havia acontecido após ceder... Sim, eu tivera essa atitude muitas vezes.

Procurei me lembrar da noite anterior. Eu estava desnorteada pela bebida, mas sabia o que havia acontecido: o jantar, a conversa, as confissões que ele fizera para mim... Não me lembro de tê-lo convidado, no entanto, pelo menos não de forma direta como ele sugeria, mas também não o mandei embora.

–Não me lembro de ter dito algo como ‘Edward, fique aqui comigo.’. –Por algum motivo minha voz soou rude, talvez pela tensão daquele momento. Depois do que aconteceu na noite anterior, embora não tenhamos passado dos limites, eu me sentia estranhamente vulnerável. Edward continuou a me encarar, mais e mais aborrecido com a minha postura defensiva.

–Quando eu perguntei a você se poderia ficar aqui, você disse algo como ‘eu só tenho essa cama para dividir’. Para mim isso foi um sim. –Notei certo sarcasmo em suas palavras, algo típico do Edward de outrora, do Edward de quando estávamos a pouco tempo casados. Movida por aquele comportamento que eu tanto detestava, eu o espelhei sendo sarcástica também.

–Aposto que se eu falasse não, você ouviria um sim. Estou certa? –E minhas palavras arrancaram um meio sorriso de seus lábios (meus olhos ficaram naquele local por mais tempo do que o permitido) e relembrei que vi aquele mesmo sorriso algumas vezes antes, quando namorávamos.

–Absolutamente certa. –Ainda sentado, ele ergueu uma mão em minha direção, oferecendo-a para mim. Estava desnorteada demais para entender o seu gesto. Edward notou o quanto minha confusão, manifestando-se em meu lugar.

–Venha, sente-se. –Deu espaço para que eu sentasse ao seu lado, dando tapinhas no lado vazio do sofá. Eu temia qualquer aproximação com ele, temia as sensações que me assaltavam quando estávamos próximos. Eu não me sentia mais dona de mim para impedir que eu agisse de forma imprudente, como permitir seu assédio e até correspondê-lo.

–Edward, eu não tenho tempo para conversar. Vou acabar chegando atrasada do trabalho e... –Eu dizia nervosamente, olhando para a porta. Tinha outra desculpa engatilhada para falar, mas as palavras me escaparam quando senti minha mão ser capturada pela sua.

–Sente-se Bella. Eu sei que você tem tempo, acordou cedo e se arrumou rápido. Além disso, eu não vou demorar com o que falarei.

Eu não pude afastar sua mão, que ainda segurava a minha, ou negar o seu pedido. Relutantemente eu me sentei ao seu lado, ainda mantendo certa distância. Ele não soltou minha mão, pelo contrário, segurou-as entre as suas mãos grandes e quentes. Notei então, tardiamente, que minha antiga aliança estava no meu dedo anelar esquerdo. Eu poderia apostar que Edward a colocara ali enquanto eu estava dormindo. Suspirei. Ele precisava entender que as coisas, apesar de confusas no momento, não mudaram minha resolução de me separar.

–Edward, não é por que nós jantamos ontem e você dormiu aqui em casa que...

–Eu sei. –Murmurou com pesar. Seus olhos fitaram nossas mãos para depois me olharem com uma intensidade desconcertante.

–Escute tudo o que tenho para dizer, por favor. Sei que já tivemos essa conversa, mas você nunca me ouviu. Você fingia ouvir. Me escutará agora? –Eu assenti e Edward continuou. –Eu quero contar tudo, coisa que eu deveria ter feito anteriormente.

–Eu não quero ouvir por que eu já sei o que vai dizer. Estou tão cansada disso! –Soltei minhas mãos, colocando-as em minha testa. Edward apressou-se em capturar minhas mãos novamente, fazendo-me olhar para ele.

–Você não ouviu antes, como eu disse, e sim fingia ouvir. –Eu voltei a olhá-lo, calada. Ele entendeu isso como um consentimento para conversarmos. Respirou fundo, preparando-se para falar. Quando começou, as palavras saíram numa torrente.

–Não vou começar pela minha infância, disso você já sabe. Mas devo lembrá-la que muito do meu comportamento tenebroso é reflexo do que vivi quando pequeno. Eu deveria ter me tornado o oposto do meu pai, mas não foi o que aconteceu. Eu consegui a proeza de ser o pior, um narcisista materialista ao extremo, ávido pelo poder e por uma vida de luxúrias. –A forma como falava de seus pecados era emocionada. Imperceptivelmente ele comprimiu as minhas mãos com um pouco mais de força do que o necessário. Ficou em silêncio, perdido em pensamentos nada agradáveis até conseguir retomar o que falava.

–Eu não tive as melhores experiências com mulheres, à maioria que se aproximava era por interesse. Passei a tratá-las como objeto, tal qual me tratavam.

–E eu fui uma delas, certamente. –Falei com amargura. Ele não ousou me olhar.

–Sim, no começo. Meu pai estipulou aquela cláusula idiota e eu queria cumpri-la a fim de conseguir minha herança. Eu não medi esforços para conseguir o que era meu por direito. Eu estava disposto a pisar em qualquer um. –Suas palavras foram como adagas em meu peito. Eu não queria ouvir mais nada, porém ele continuou a falar.

–Além de me casar por um ano, eu precisava de alguém que Alice aprovasse. Vi vocês certa vez e eu a escolhi pelo bom relacionamento demonstrado por vocês duas. Eu agi como um patife, iludindo-a a fim de apressar as coisas. Já tinha tudo planejado: após o casamento eu faria você me pedir o divórcio, já que eu não poderia fazer isso por um ano. –Eu me recordei do dia em que tive acesso ao testamento, lendo-o e sabendo que apenas eu poderia gerar o divórcio antes do período de um ano sem prejudicá-lo.

–Você me prejudicou tanto só para ter o seu dinheiro... –Minha voz soou embargada. Uma lágrima escapou de meus olhos e como minhas mãos estavam sendo seguradas pelas de Edward eu não a enxuguei. Edward fez o favor de enxuga-la por mim com a costa de uma mão. Sua mão ficou um pouquinho ali, acariciando meu rosto.

–Eu era diferente naquela época, ainda sim não senti prazer eu machucá-la tanto. Foi muito difícil, mas acreditei que seria melhor agir daquela forma. Quanto mais rápido você pedisse o divórcio, mais rapidamente sairia daquele pesadelo. Pensei estar agindo com bom senso, sem tocá-la e destratando-a. –Sorriu tristemente.

Embora a verdade machucasse, eu estava curiosa. Eu queria entender tudo o que havia acontecido sob a perspectiva dele. Por isso procurei me acalmar e sufocar a tristeza que eu estava sentindo a fim de incentivá-lo a falar mais.

–Por que as coisas mudaram? O que fez as coisas mudarem? –Perguntei. Ele sorriu minimamente, tocando meu rosto mais e mais, acariciando-o da têmpora esquerda ao queixo. A outra mão segurava minhas duas mãos e o vi inclinar a cabeça, deitando-a nas costas do sofá.

–Eu descobri o meu amor por você. Deveria ter confessado o que eu sentia, mas não o fiz. Eu demorei a admitir o que sentia. Você foi a primeira mulher por quem eu me apaixonei e eu estava tão desnorteado com isso! Bella... Eu errei muito com você, movido pelo amor, pelo ciúme, pelo desespero. Deus sabe o quão confuso eu estive nos meses que se seguiram. Nosso relacionamento se transformou num caos completo principalmente por que você me destratava e eu espelhava o seu comportamento. Não conseguia ficar calmo e trata-la com amor como você merecia. Foi só quando eu a vi com o tal Jacob que eu percebi o quanto fui burro em não expressar meus sentimentos. Mais uma vez agi precipitadamente, temeroso em perdê-la. Não sei se foi um erro ou acerto o que eu fiz naquela noite, mas graças a isso ficamos juntos. Eu pude quebrar as barreiras que me envolviam e confessar meus sentimentos. Deveria ter esclarecido tudo sobre o contrato, mas temi perdê-la.

Enquanto Edward falava, eu me lembrava do que vivemos do momento em que ele passou a me notar na empresa até agora. Foi um caminho árduo, cheio de altos e baixos (principalmente baixos) em que ora nos amávamos, ora nos odiávamos. Nunca existiu, até agora, um meio termo para nós dois. Com pesar conclui que talvez nunca existisse.

–Você deveria ter me contado. –Murmurei, encarando o chão. –Se tivesse me esclarecido tudo, as coisas teriam se resolvido. Mas agora... –Deixei o restante do discurso em suspenso. Ele entenderia, claro, onde eu queria chegar. Apertou minhas mãos e por pouco não as machucou. Com uma mão ele ergueu meu queixo, forçando-me a olhar para ele.

–Não diga nada definitivo, não ainda. –Implorou. –Me deixei tentar, eu ainda tenho forças para lutar por você. –O calor de suas mãos e seu discurso apaixonado me envolveram como uma onda, sufocando-me.

Eu estava à beira de um precipício de emoções e a cada instante Edward me puxava para cair, perder para o lado mais favorável a ele. Eu estava com medo, temendo reviver os momentos terríveis que vivi ao seu lado.

–O que você quer que eu faça afinal? Desistir do divórcio e voltarmos a viver como marido e mulher? Fingir que nada aconteceu? Edward, eu não sou assim tão nobre. E eu descobri um amor próprio muito grande em mim para ignorar todo o mal que você me fez.

–Não estou pedindo para ficar comigo aqui e agora e desistir da separação. –Tratou de desfazer minhas palavras. –Eu só quero que pense um pouco mais sobre isso e perceba que o melhor seria ficarmos juntos. Prometa-me Bella, por favor. –Eu quase ri das suas palavras. O que dizia era o mesmo do que admitir que ele queria o meu perdão e o esquecimento dos acontecimentos ruins do passado.

Eu deveria dizer não a ele e certamente Edward aceitaria. Ou poderia simplesmente manda-lo ir embora. Tantas coisas a se fazer...

Depois de errar tanto, eu deveria ser mais racional e me afastar dele. Mas depois de tantos erros cometidos que muitos prejuízos me trouxeram, errar uma vez mais não me pareceu um pecado muito grande.

–Tudo bem Edward. Eu prometo pensar um pouco mais sobre isso. –Disse. Minha resolução modificou completamente o ambiente pesado que antes imperava. Edward abriu o sorriso mais lindo que eu já vi em um homem, deixando-me sem palavras. Seus braços logo me envolveram em um forte abraço, deixando-me embasbacada. Meu primeiro pensamento foi de afasta-lo, mas fui relaxando naquele contato, lembrando-me de épocas mais felizes quando eu achava ser a mulher mais afortunada da Terra por estar em seus braços.

Cedo demais ele se afastou, roçando seu rosto com o meu enquanto sua respiração quente tocava aqui e ali em meu corpo.

–Era só isso o que eu precisava. Eu sei que eu não mereço, mas agradeço mesmo assim pelo benefício da dúvida. –Afastou-se como se me desse tempo para respirar. Flexionei as mãos assim que ele as soltou e me apressei em retirar a aliança colocada por ele.

–É melhor ficar com isso por enquanto. Eu não quero ter de dar explicações. –Devolvi o aro dourado a ele, que aceitou com relutância. Tão rápido que não pude impedi-lo, Edward colocou a aliança no dedo médio da mão esquerda.

–Como estou em estado probatório, o anel ficará aqui. Ninguém fará perguntas. Só retire o anel se decidir pelo não e eu espero sinceramente que isso não ocorra. –Seu riso baixo encheu a pequena sala de meu apartamento de um sentimento bom, caloroso. Esperança... Era isso o que havia agora naquele local.

Constrangida, eu me levantei.

–Eu preciso ir agora. –Olhei o relógio de pulso só para não ter de olhar para ele.

–Quer uma carona? –Perguntou. Neguei veementemente. Eu sentia que se permanecesse ao seu lado por mais tempo faria uma besteira maior.

–Não. Vou com a minha moto. –Ousei olha-lo. Foi um erro.

Edward estava perto demais, fazendo-me sentir sua respiração quente em meus lábios. Seus olhos me despiam, transmitindo uma sensação sem igual, quase como se ele pudesse ver minha alma com aqueles orbes, dourados e hipnóticos. Deus, Edward era lindo! Nada modificou minha percepção de sua beleza, nem mesmo o ódio cego que sentira tantas vezes.

Suas mãos grandes e quentes seguraram meu rosto enquanto ele diminuía mais e mais a distancia entre nossas bocas.

–Eu posso? –Pediu. Quase ri daquele seu pedido. Se eu dissesse não a ele, Edward agiria de qualquer forma. Enquanto se aproximava, interpretando meu silêncio como um consentimento, eu sussurrei.

–Permitir que me beije não é um sim à reconciliação. –Nossas respirações se mesclavam; eu já sentia o seu gosto maravilhoso e familiar na minha boca antes do beijo. Quando nossos lábios se encontraram foi só contentamento. Aquele era o nosso primeiro beijo em que eu consenti e tinha um gosto todo especial, um gosto de reconciliação pela frente. Ele sabia disso, posso apostar. Eu sabia, mas não estava pronta para admitir. Puxou-me para o circulo dos seus braços com uma força tremenda, mas não reclamei. Não o envolvi em meus braços como gostaria, descansando minhas mãos em seu peito coberto pelo terno e nada mais.

A princípio eu realmente me entreguei aquele momento, acreditando que não passaria de um inocente beijo. Então as mãos de Edward foram ficando impacientes, tocando-me com mais força enquanto seus lábios me beijavam com mais e mais ânsia. Temi o seu descontrole, eu não sabia se o recusaria caso ele sugerisse com o corpo nós fazermos amor, mas parou, para o meu espanto.

–Vou acabar perdendo o controle assim. É melhor eu parar enquanto ainda conservo um pouco de racionalidade. –Beijou minha testa, afastando-se. –Eu estarei esperando por você. –Disse com um meio sorriso nos lábios, os olhos de alguma forma também sorriam. Saiu calmamente e ouvi seus assovios pelos corredores antes, suponho, de entrar no elevador.

Precisei me sentar depois disso, sabendo que, após tudo o que houve entre nós nesse curso espaço de tempo, ficaria difícil dizer um não definitivo a ele.

...

Antes de entrar em minha sala, recebi uma ligação do meu advogado. Ele queria saber se eu já tinha em mãos o vídeo que comprovava a traição de Edward. Lembrei-me do DVD que Jessica deixou em minha bolsa, item que não voltei a pegar depois. Inventei a desculpa de que minha amiga ainda não encontrara o material. O senhor Smith compreendeu, dizendo que a documentação já estava pronta e que mais tarde anexaríamos a prova. Eu agradeci seu empenho e me despedi.

Eu estava me sentindo mergulhada no caos. Há apenas algumas semanas eu estava odiando Edward e agora eu não mais sabia o que sentir. Fui compelida pelas palavras dele a olhar todos os acontecimentos sob sua perspectiva, refletindo sobre meus atos e os dele. Edward havia falhado, é verdade, mas quem nunca errou nessa vida? Eu mesma cometi os meus erros em nosso relacionamento. Ele parecia arrependido e parecia me amar, isso deveria bastar para deixar tudo de lado e viver novamente esse amor.

Não bastava.

As lembranças ruins dos meses de sofrimento que passei, e os motivos por detrás de meu sofrimento imposto por ele, martelavam minha cabeça. Eu nunca conseguiria me desvincular da raiva, da tristeza, da mágoa. Eu não sabia se conseguira tocar um relacionamento com ele, sendo constantemente atormentada pelos erros cometidos.

“Você precisa seguir em frente Bella.” –Pensei enquanto entrava em minha sala, sendo recepcionada pela minha amiga Jess. Mesmo ouvindo sua conversa animada sobre o que esperar do evento que participaríamos naquela noite, eu não consegui me desligar dos pensamentos a respeito de Edward.

Enquanto trabalhava, cometi um ou outro erro devido a minha desatenção, mas Jess salvou meu dia, corrigindo minhas falhas. Só sosseguei quando chegou a hora do almoço. Ben não almoçou conosco como de costume, imerso em trabalho como estava. Mike ficou ao lado da namorada, do outro lado do refeitório. Ficamos apenas Jessica e eu numa conversa monossilábica (ela falava e eu dizia uma ou outra coisa para incentiva-la a falar). Mas em um determinado momento, Jessica me surpreendeu sendo observadora.

–Aconteceu alguma coisa com você. Edward deve estar envolvido. –Falou num tom de voz rude enquanto seus olhos fitavam o aro dourado que Edward colocara em meu dedo antes de eu vir à empresa.

–Não pense coisas sem sentido. –Disse, tentando esconder minha tensão. Eu sabia o quanto eu seria criticada pelos meus recentes atos e não estava a fim de ser repreendida naquele momento.

–Você está muito dispersa, alguma coisa grave deve ter acontecido. Além do mais isso no seu dedo é uma aliança. –Apontou para o meu dedo e tratei de esconder minhas mãos, colocando-as debaixo da mesa.

–Seria uma aliança se estivesse no dedo anelar, o que não é o caso.

–E o seu advogado? Já entrou com o pedido de divorcio via litigiosa? –Jess me avaliava, louca para que eu cometesse um deslize e assim pudesse me criticar. Dei de ombros, tentando aparentar tranquilidade.

–Tudo encaminhado. Agora vamos falar do evento de hoje à noite. Quero saber como iremos para lá, quem vai nos acompanhar, etc. –Minhas palavras a distraíram e Jess esqueceu do assunto.

Eu não estava preparada para dizer alguma coisa a alguém. Primeiramente tomaria a decisão e depois comunicaria a todos. Era a única coisa sensata que eu faria.

...

Eu estava cansada, física e emocionalmente, mas iria ao tal evento promovido pela Summit publicidade. Jessica dissera que iriamos de taxi para lá e decidiu ir para o meu apartamento se arrumar junto comigo, assim iriamos juntas. Aceitei, precisando mesmo de ajuda para me arrumar.

–Que tal esse vestido? –Perguntei a ela. Jess negou com a cabeça, olhando o vestido simples preto que escolhera com nojo.

–Vamos ser um pouco mais ousadas. –Foi até o meu closet, remexendo em algumas caixas e sacolas onde eu guardava os itens mais caros do meu guarda-roupa, escolhidos e comprados por mim certa vez. Retirou um vestido preto com um decote ousado na frente e que ia até os joelhos.

–Jess, eu acho esse vestido ousado demais para o evento. –Comentei enquanto ela o deixava em cima da minha cama.

–É perfeito! Não haverá outras oportunidades de se vestir assim e mostrar o quanto você é bonita aos nossos superiores. –Voltou ao meu armário retirando um par de sapatos preto com detalhes dourados. Lembrei que os sapatos haviam sido dados por Alice e me repreendi por não tê-los devolvido. Pensei que havia devolvido tudo dado por ela e pelo irmão.

–Com esse look você pode usar uns brincos dourados, compridos, e só. Vou procurar uma bolsa para você. –Encontrou uma bolsa dourada, comprada por mim, mas que nunca usei. As roupas escolhidas estavam ótimas, era verdade, e Jess me ajudou com a maquiagem um pouco mais pesada e um coque frouxo nos cabelos. Contemplei o trabalho no espelho enquanto ela vestia a roupa comprada. Eu estava bonita, e senti uma necessidade insana de ser vista daquela forma por alguém que eu amasse. O nome de Edward me veio à cabeça, mas procurei sufocar isso.

Esperei por Jessica na sala, assistindo ao noticiário local só para matar o tempo. Ela demorou muito mais do que uma mulher normal demoraria, mas não me importei. Lá pelas tantas, quando descíamos para o térreo do meu prédio, lembrei que não havíamos ligado para pedir um táxi. Eu pretendia lembrar Jess desse detalhe quando vi um carro estacionado em frente ao meu prédio.

–Jess, eu vou matar você. –Murmurei. Ela deu uma risada travessa e caminhou saltitante até o carro onde Jacob nos esperava. Ela havia pedido para ele nos buscar, eu posso apostar.

–Boa noite meninas. –Ele nos cumprimentou enquanto abria a porta do carro para nós. Jess deu um pequeno murro em seu ombro.

–Obrigada por vir Jake. Quero entrar glamurosa e o seu carro pode proporcionar isso mais do que um taxi. –Entrou rapidamente, acomodando-se. Eu fiquei atarantada, sem graça como nunca fiquei antes por estar em frente a Jacob.

–Oi Jacob. –Disse baixinho enquanto entrava logo atrás. Ele respondeu ao meu cumprimento com um olá e um sorriso antes de voltar ao seu lugar e ligar o carro.

Eu queria socar Jessica no interior do carro, mas resolvi esperar por um momento mais oportuno. Ela começou uma conversa animada com Jacob, incluindo-me vez ou outra. Falava o essencial, olhando a noite pela janela. Com o passar dos minutos fui ficando um pouco mais a vontade e fiquei aliviada por isso.

O evento estava ocorrendo no salão de festas de um grande hotel conhecido como Plaza Athenee. Jacob estacionou em frente ao hotel e logo um homem apressou-se em pegar as chaves do carro e estaciona-lo. Inteligentemente Jess nos deixou para trás, murmurando algo sobre encontrar com uma pessoa. E então Jacob e eu estávamos sozinhos.

–Então, vamos? –Ele perguntou após alguns minutos. Assenti, aceitando o braço que ele me oferecia. Não estava me sentindo bem com aquela proximidade, mas não queria ser mal educada recusando-o.

Quando eu me deparei com o requinte do lugar eu tive que dizer algo.

–Esse lugar é lindo! –Olhei maravilhada para o interior: vasos com flores, piso de mármore branco, lustres de cristal e tantas outras coisas bonitas. O tipo de lugar que eu temia pisar, não querendo riscar o piso.

–É mesmo. Vim aqui algumas vezes. Eles têm um jardim incrível que contorna boa parte do hotel. Pena que não dará para ver por já ter anoitecido. E a propósito você está linda! –Sorriu. Claro que seu comentário e o modo como me olhava fez com que eu ficasse corada até a alma. Acabei por olha-lo e perceber finalmente o quanto ele estava bonito. Usava calça e sapatos sociais pretos, uma camisa de gola V e um paletó preto por cima da camisa. Estava lindo, apesar de eu achar que aquele estilo formal demais não combinava com ele. E, ao contrário de mim, parecia à vontade.

–Obrigada. Você está ótimo também. –Disse depois de um tempo, mas ele pareceu não se importar com a demora em responder.

Um funcionário nos encaminhou até o local onde ocorria o evento. Conversamos sobre a empresa antes de entrarmos no salão, mas quando pisamos no espaço – ricamente decorado devo acrescentar – um grupo de rapazes que trabalham na Summit pegou Jacob para conversar. Procurei Jessica com os olhos, mas não a encontrei. Pretendia sair de fininho do lado de Jacob e me sentar, mas para a minha surpresa ele segurou minha mão quando me afastei.

–Espera. Eu vou com você. –Afastou sua mão da minha, mas manteve-se perto de mim. Fomos até uma mesa e sentamos. Um garçom veio em nossa direção, oferecendo todo o tipo de bebidas. Jacob pegou champanhe e eu o acompanhei, escolhendo o mesmo.

–Onde está a Jessica? –Ele perguntou. Olhei novamente envolta, mas não a localizei.

–Não sei. Ela sumiu. –Beberiquei o champanhe enquanto continuava a olhar para todos os lados, percebendo que naquele evento não estavam apenas funcionários da Summit, mas empresários do mesmo ramo.

–Como você está? Faz algum tempo que não conversamos. –Os olhos de Jacob estavam em mim enquanto um bonito sorriso estava nos seus lábios.

–Eu estou... Bem. –Menti. Não havia como eu dizer a ele o quanto eu estava confusa com os últimos acontecimentos na minha vida. Apressei-me em esconder a mão esquerda onde repousava a aliança no dedo médio.

–Não sei, sinto que está mentindo para mim. –Suas palavras e o modo como me olhava eram desconcertantes demais! Felizmente alguém o chamou e Jacob e ele teve de dar atenção à outra pessoa.

–E aí? Já marcaram um motelzinho após o evento? –Jess surgiu do nada, sentando em uma cadeira ao meu lado.

–Fez isso de propósito, não é? –Eu a olhei mortiferamente, querendo esganá-la diante de toda aquela gente.

Dando de ombros, Jess disparou:

–Alguém precisa cuidar da sua vida sexual por que se depender de você agir, acabará celibatária em alguma montanha chinesa. –Pegou uma bebida ofertada por um garçom, bebendo despreocupadamente enquanto olhava a festa.

–Eu não preciso de nada disso. E mesmo se precisasse de alguém Jess, não seria Jacob. Ele merece mais do que alguém como eu, ele merece ser amado sem reservas. Não faça essas coisas, de tentar nos aproximar! –Inquiri, irritada. Jessica não parecia aborrecida com o modo ríspido com que eu a estava tratando, ela certamente já esperava por isso.

–Para sua informação eu não forcei a situação. Jacob soube que não teríamos carona e se ofereceu. Eu aceitei por que não queria gastar rios de dinheiro com táxi. Se quiser reclamar pelo desconforto de estar com ele, reclame com Jake. –Quando o garçom chegou até a nossa mesa, ela tratou de pegar dois drinks e virar o seu como se fosse água. –Vou dar uma circulada, vi um gatinho lindo quando cheguei e estou a fim de me divertir. –Piscou para mim antes de desaparecer em meio aos convidados.

Suspirando pesadamente, eu quis ir embora. Não sabia por que havia vindo se iria ficar sozinha. Preferiria descansar em casa, após ter visto algo monótono na televisão para ajudar o sono chegar. Após bebericar a bebida escolhida por Jessica para mim, levantei e rumei para a sacada do hotel, cujas persianas encontravam-se abertas.

O ar da noite, embora mais frio do que eu gostaria, estranhamente me acalmou um pouco. Deixei-me ficar ali, recebendo aquela brisa gelada no rosto e ouvindo o barulho das criaturas noturnas – insetos, uma coruja solitária e até alguns morcegos que passavam em voos rasantes. E naquele momento de quietude eu pensei em Edward. Ele estava em algum lugar, aguardando minha decisão. Meu coração dizia sim a sua proposta, mas essa voz a muito eu ignorava. A razão estava mais forte, implorando para eu me afastar. Eu deveria fazer isso, terminar definitivamente com meu ex-marido e tentar ter uma vida normal ou com alguém ou sozinha. Mas quem disse que eu consigo seguir minha razão? Agora mesmo eu tocava meus lábios enquanto me lembrava do beijo que trocamos. Como eu sentia falta dele! Eu queria...

–Deve estar com frio. –Um casaco foi colocado em mim. Virei-me abruptamente para ver Jacob se escorar no parapeito como eu fazia. Olhava para o céu, perdido em pensamentos. Ficou assim por um tempo e não ousei interromper aquele momento, mas uma hora ele se manifestou.

–Não esta gostando da festa? –Perguntou. Dei de ombros.

–A festa está legal, sou eu que não estou no clima. Sinto-me cansada. –E realmente eu estava cansada, mas não era exatamente um cansaço físico. Eu estava meio debilitada com a carga de emoções que me tomavam a todo instante. Aconcheguei-me mais no paletó colocado por Jake no meu ombro.

–Você parece mesmo cansada, mas algo me diz que o seu cansaço não é apenas do trabalho. –Os olhos de Jacob me sondavam e algo me dizia que ele já sabia do que andava acontecendo na minha vida. Claro, Jessica deve ter contado tudo a ele.

–Tenho tido muito trabalho. Preciso de férias. –Desconversei, evitando olha-lo. Mas estava claro pela minha atitude defensiva que eu blefava.

–Soube que você se separou do tal Edward. –Ele disse sem rodeios, deixando-me sem ação pelos minutos que se seguiram. Eu o encarei e soube, pela expressão séria que carregava no semblante jovial, que Jake iria jogar na minha cara a péssima escolha que eu fiz. Rindo sem nenhum humor, eu e manifestei.

–Ela deve ter contado tudo, a Jessica. Pois bem eu estou separada dele, esperado que os papeis sejam assinados. E agora? Vai jogar na minha cara a péssima escolha feita por mim? –Fui rude, mas não consegui evitar. Jacob pareceu não se abalar pelo modo que eu agi, ao contrário, tinha uma expressão terna no rosto.

–Não, isso não é do meu feitio. Talvez naquela época, movido pela raiva, eu tivesse feito algo assim. –Ele parecia sincero, mas havia algo em seus olhos que o denunciava.

–Diga logo o maldito “eu avisei”. Eu mereço ouvir e talvez com um belo sermão eu possa fazer as coisas certas dessa vez. –Minhas palavras não eram ríspidas, tinham um toque cômico. Jacob captou o clima subitamente leve e entrou na brincadeira.

–Eu te avisei. –Disse entre risos. E rimos os dois daquela situação tão desconcertante, regada a lembranças dolorosas.

–Eu sinto muito por você estar passando por tudo isso. Você não merece. –Ele falou delicadamente.

–Acho que eu mereço sim por ter magoado você. Você fez tanto por mim e eu trai sua confiança, ficando com uma pessoa que me prejudicou, perdoando-a tão facilmente! –Jacob segurou minha mão, silenciando-me. Ficamos de frente para o outro e ele continuou a segurar minha mão.

–Eu torço pela sua felicidade, Bella. Nunca desejei o contrário para você. –A sua mão livre tocou o meu rosto, acariciando-o. E isso realmente mexeu comigo. Jacob me queria tão bem, mesmo depois das atrocidades cometidas por mim contra ele. A cada minuto eu tinha a certeza de que eu não o merecia e deveria desencorajar quaisquer atos com o intuito de sermos novamente um casal, seja partindo de Jess ou dele.

–Jake... Eu... –Como eu poderia demonstrar a quão grata eu estava por ter uma pessoa como ele na minha vida? E como eu poderia pedir perdão adequadamente, se falar “perdão” ou “desculpa” não bastavam? Talvez eu devesse...

–BELLA! O QUE SIGNIFICA ISSO? –Uma voz potente soou a alguns metros, fazendo-nos virar para as persianas de acesso a sacada. Edward estava de pé diante de nós, olhando-nos com uma fúria impressionante.

O que Edward estava fazendo aqui? Tardiamente eu me lembrei de que neste evento profissionais da área de publicidade de outras empresas foram convidados.

Enquanto minha mente ainda processava sua presença, rápido como um tufão, Edward avançou para Jacob, pegando-o desprevenido. Socou seu rosto e Jacob cambaleou para trás, chocando-se contra o parapeito.

–EDWARD! –Gritei, avançando até os dois na tentativa inútil de impedir uma briga. Jacob empurrou Edward quando este fez menção de ataca-lo novamente e eu tentei agarra-lo quando ele veio em minha direção. Tudo em vão. Edward era mais forte e facilmente se livrou de mim, empurrando-me com tanta força que me choquei contra uma persiana, chamando assim a atenção dos convidados.

O empurrão não me machucou tanto, mas fiquei tão abalada que continuei estatelada no chão, olhando fixamente para eles. Jacob conseguiu dar um soco em Edward e quando Edward iria golpeá-lo em resposta, alguns convidados apareceram e rapidamente intercederam.

–VOU MATAR VOCE SEU DESGRAÇADO! –Edward gritou para Jacob enquanto tentava se libertar das mãos que o mantinha parado. Jacob não precisou ser segurado.

–Você é um grande idiota. –Ele caminhou até mim, ajudando-me a levantar. –Você está bem? –Perguntou. Eu sacudi a cabeça dizendo que sim, que eu estava bem, mas as lágrimas me denunciaram. Retirei o paletó de Jacob, devolvendo-o e caminhei apressada em direção à saída. Ouvi a voz de Jake me chamando, mas não ousei olha-lo. Eu estava envergonhada por que provavelmente eu era a culpada por ele ter sido agredido.

Mais vozes me chamavam, mas eu as ignorei indo para a saída. Quando eu estava cruzando o saguão... Fui impedida.

–O que...? –Olhei para a mão que segurava forte o meu braço. Edward, arfante, me olhava com a mesma fúria de outrora.

–Aonde você pensa que vai? Acha que pode desaparecer sem me dizer nada? –O seu aperto era doloroso e o seu olhar desconcertante.

–Não tenho nada para dizer, é você quem me deve explicações e desculpas pelo que fez a mim e a Jake. –Uma fúria tomou conta de mim e subitamente repeli sua mão. –Me deixa em paz! –Gritei, praticamente correndo para a saída. Novamente Edward me alcançou, segurando-me num aperto insuportável.

–Você é inacreditável mesmo! Vai se fazer de vítima agora? Sou eu a vítima aqui! Como pôde sair com ele, agindo como se fossem um casal? Acha mesmo que eu vou permitir que você brinque comigo como se eu fosse um palhaço? –Sua voz alterada chamava mais e mais atenção.

–Eu não tenho que dar explicações a você! Eu não estou nem aí com o que a sua mente deturpada imagina! –Eu o empurrei e corri para a saída. Ignorando a tudo, projetei meu corpo para frente. Só deu tempo de ouvir a freada.

O impacto não foi tão forte, certamente não quebrei nenhum osso, mas a forma como eu caí após ser atingida foi o doloroso. Senti o pulso da mão esquerda quando tentei evitar um choque maior no asfalto.

Ouvi gritos e vozes pedindo socorro. Levantei cambaleante e fui me sentar na calçada. O motorista, mesmo não sendo culpado do que fizera, fugiu assustado.

–BELLA! BELLA! –Edward correu ao meu encontro, ficando de frente para mim. Tocou meu rosto, erguendo-o. Sua expressão era cheia de desespero. –Você está bem? –Sua voz estava tremula.

Em meio ao choque de tudo o que acontecera até aquele momento, eu só consegui balbuciar uma coisa:

–Preciso ir a um hospital.

...

Eu não cheguei a quebrar o pulso esquerdo, mas trinquei um osso desse local. Teria que deixá-lo numa tipóia por via das dúvidas. Por causa das dores, tomaria um remédio receitado pelo doutor que me atendera.

Edward estava com um semblante pesaroso, mantendo uma distancia segura de mim. Perguntava o tempo todo se eu estava bem, se meu pulso estava doendo, se eu estava com frio, sede, fome, cansaço... Como se sua preocupação exacerbada pudesse corrigir seus erros. Não corrigiria. Naquele breve instante de loucura, quando atacou implacavelmente a Jacob e a mim, eu vi nele o Edward de outrora e conclui que ele não mudara nada. Ele continuaria esse ser imperfeito, sempre colocando a ele em primeiro lugar. Eu era só uma propriedade que ele fazia questão de impor suas vontades. Ele era tão egoísta! E eu uma tola por acreditar que ele poderia ter mudado. Após vários minutos de silencio, ele resolveu se manifestar quando eu já havia sido liberada para casa.

–Você está com frio, não está? Tome. –Ofereceu o casaco recentemente tirado para mim. Não fiz menção de pega-lo. Suspirando pesadamente, ele colocou o casaco sobre os meus ombros enquanto nós rumávamos para fora.

–Vou levá-la para casa, mas antes passaremos em uma farmácia e eu comprarei o remédio receitado pelo médico. Não acho que a amostra grátis dada por ele vá ser o suficiente. –Eu poderia negar a carona, mas ele certamente teimaria e na tentativa de me livrar dele eu acabaria com outra parte do corpo quebrada.

Cumpriu o que prometera. Fomos a uma farmácia e Edward comprou mais medicamentos do que o necessário. Ele também parou em um restaurante, pedindo algo para viagem mesmo depois de eu dizer que não tinha fome. E novamente o silêncio imperou entre nós. Eu estava um caos completo e, no entanto, não conseguia reagir, gritar, socar alguma coisa, sei lá!

Ao chegarmos ao meu apartamento, Edward teve o disparate de me seguir. Mesmo caminhando apressadamente, ele me alcançou com facilidade. Senti algo se operar em mim a cada passo que eu dava um desespero por eu ser seguida por ele. Será que eu nunca me livraria dele? Será que eu não encontraria mais paz? O que o Edward queria de mim? Por que ele continuava a me prejudicar, se dizia gostar de mim?

Peguei as chaves em minha bolsa de mão e abri a minha porta, passando por ele. Tentei fecha-la, mas Edward colocou uma mão.

–Bella, vamos conversar. –Exigiu, cercando-me como se eu fosse um animal prestes a escapar. Num surto de raiva, eu saí derrubando tudo o que a minha mão alcançou – porta-retratos, um vaso de vidro, cadeiras, livros – sem me preocupar com o que eu estava quebrando. Edward ficou paralisado com o meu ato, pois não havia previsto tamanha cólera da minha parte.

Após a gritaria e o arremesso de objetos, eu caí no chão, arfante, com os olhos lacrimejantes. Segurei fortemente os meus cabelos, puxando-os. Eu estava tendo uma forte crise histérica.

Então eu parei, sentada no chão com a cabeça encostada nos joelhos. Chorava como uma desesperada, implorando aos céus para que eu pudesse voltar no tempo e ter uma vida tediosamente pacata. Deus, como eu queria isso! Como eu queria ser aquela Bella sem graça que suspirava por Edward nos corredores! Seria uma vida muito melhor do que a de agora!

–Eu não aguento mais! O que eu fiz para você me causar tamanha infelicidade? Por que você não me deixa em paz? –Minha voz saia com dificuldade de tão abalada que eu estava. Meu corpo inteiro tremia, agindo em ressonância com a minha respiração entrecortada e batimentos cardíacos erráticos. Imagens de tudo o que eu vivera com Edward, até agora, vinham me atormentar, sufocando-me. Eu, naquele instante, não consegui pensar nas boas recordações que certamente nós tínhamos. Era apenas dor, e raiva, e tristeza, e as más recordações dos piores momentos da minha vida.

Não sei por quanto tempo fiquei naquele estado deplorável até perceber que eu não deveria me expor assim para ele, mas eu simplesmente não conseguia parar. Edward estava calado diante de mim, algo atípico dele em situações que claramente pedem o seu auxilio para apaziguar a situação. Num momento como esse, ele viria com suas desculpas e seus pedidos de perdão, mas ele não o fez.

Após alguns minutos assistindo meu desempenho, ele se moveu. Tão lentamente quanto pôde, Edward colocou suas mãos em meu rosto, fazendo-me olhar para ele. Secou as lágrimas que caiam vertiginosamente dos meus olhos com os polegares de suas mãos e nos seus olhos eu pude ver uma tristeza imensurável. Ver o que eu vi naqueles orbes cor de ouro foi o suficiente para aquietar temporariamente o descontrole e apenas observa-lo, com curioso espanto.

–Está bem. –Falou numa voz sôfrega. –Eu vou deixá-la em paz como é o seu desejo e lhe darei o divórcio. Por que só assim eu provarei o quanto eu a amo, amo o suficiente para entender que o melhor para você é ficar longe de m... –Nas últimas palavras, sua voz findou-se. Seus olhos brilhavam pelas lágrimas que teimosamente não chegaram a cair. Suas mãos acariciavam meu rosto enquanto seus olhos me esquadrinhavam, quase como se ele estivesse registrando meu perfil na sua memória. Subitamente inclinou-se sobre mim, o suficiente para seus lábios ficarem próximos ao meu ouvido.

–Eu só peço uma coisa, antes de desaparecer da sua vida... Eu imploro, deixe-me ficar aqui com você esta noite! –E suas palavras me deixaram chocada. Como ele se atrevia a fazer tal pedido? O mais chocante não foi o pedido e sim a minha reação: eu não me manifestei. Fiquei parada, perplexa com o seu pedido e, após algum tempo, eu me recompus.

Levantei do chão frio e segui para o meu quarto. Procurei retirar rapidamente meu vestido e os acessórios, desejando um bom banho para retirar toda a maquiagem que Jess colocara em mim. Entorpecida como estava, fiz a tudo mecanicamente, enquanto minha mente era assaltada por imagens caóticas de Edward.

Eu precisava tomar uma decisão definitiva, e segui-la não importa o que os outros pensassem. Se eu não fizesse alguma coisa eu poderia enlouquecer! Fiquei pensando seriamente nisso, enquanto deixava a água morna do banho cair em minhas costas. Ao final do banho, fui em direção ao guarda-roupa, pegando um short e uma camisa e vestindo-os em seguida. Não tive paciência para enxugar adequadamente meus cabelos, mas não me importei com uma coisa tão pequena. Como eu não o encontrei no meu quarto e não ouvia nenhum barulho nos outros cômodos do apartamento, acreditei que Edward tivesse ido embora. Deitei-me, sentindo uma exaustão sufocante. Meu corpo inteiro pareceu protestar, como se finalmente eu fosse sentir todos os machucados do atropelamento. O cansaço era tão grande que não me dei ao trabalho de me cobrir com o edredom, resignando-me apenas a ficar deitada de lado, com os olhos fixos na parede.

Eu ouvi o barulho na porta, mas não me movi. Logo senti o edredom sendo puxado o suficiente para me cobrir. Edward não havia ido embora afinal. Eu me virei, deitando minhas costas na cama e fiquei ali a contemplá-lo. Ele havia tirado boa parte do smoke que vestira, ficando apenas com a camisa branca desabotoada nos pulsos. Sua expressão facial mostrava cansaço e tristeza, nada mais. Ainda sim ele cravou um pequeno sorriso nos lábios, um sorriso que não alcançava seus olhos.

–Ultima chance: você quer que eu saia? –Perguntou. Continuei a olhá-lo, incapaz de responder. Ele entendeu minha atitude como uma permissão para ficar. Sentou-se na cama, colocando as pernas no colchão. Ficamos tão próximos que eu poderia deitar minha cabeça em seu colo, se ousasse. Edward terminou por me cobrir com o edredom e nós dois ficamos daquele jeito, sem poder desgrudar os olhos do outro, até que, por fim, o cansaço me venceu e me entreguei ao sono profundo.

...

O alarme do despertador soava distante e, enquanto ficava mais e mais consciente, o barulho ia aumentando com o passar dos minutos. Despertei completamente no horário de sempre, lembrando-me que precisava trabalhar. Meu corpo inteiro doía e pensei em faltar, mas eu queria mergulhar em qualquer coisa que me fizesse manter a mente ocupada e esquecer meus problemas pessoais; o trabalho era uma boa fuga.

Eu não encontrei Edward ao meu lado, tampouco ouvi algum barulho que denunciasse a presença de outra pessoa na casa. Trôpega, eu caminhei pelos aposentos do pequeno apartamento sem me agasalhar adequadamente, procurando por algum vestígio dele, mas nada encontrei.

“Ele foi embora.” – Pensei. Fiquei surpresa, pois acreditava que ele ao menos esperaria eu acordar e então me atormentaria com desculpas, como sempre faz. Sentei no sofá da sala enquanto um sentimento opressivo me atingia. Tarde demais eu notei que a aliança que Edward colocara ontem de manhã no meu dedo já não estava lá.

Então era o fim? Edward cumpriria o que me prometera? Ele me deixaria em paz, para sempre?

A resposta veio quatro dias depois

–Estou surpreso com o seu poder de convencimento, senhorita Swan. Não encontrei nenhuma resistência por parte do senhor Cullen quando levei os documentos do divórcio para serem assinados. Diga-me, o que disse para convencê-lo? Estou curioso. –Meu advogado, o senhor Smith, sondava-me. Dei de ombros.

–Não fiz nada. Ele percebeu sozinho o que era melhor para nós dois. –Peguei o envelope pardo oferecido pelo meu advogado, retirando o seu conteúdo. Lá estava a assinatura de Edward. Um choque perpassou meu corpo enquanto a idéia de que tudo havia acabado me atingia.

–Agora só falta a sua assinatura. –Smith sacou uma caneta que estava presa no bolso interno do seu paletó e passou para mim. Eu a peguei, olhando para o documento enquanto ele indicava os locais onde eu teria de assinar. Fitei aquelas lacunas a serem preenchidas por mais tempo do que o normal, sabendo que se assinasse eu selaria o fim do meu casamento. Ou talvez eu já tivesse feito isso quando gritei com Edward.

–Senhorita Swan? Algum problema? –O advogado perguntou. Eu meneei a cabeça, voltando à atenção ao que eu deveria fazer. Assinei em todas as lacunas destinadas a mim e passei o documento para ele. O senhor Smith o guardou no mesmo envelope pardo e sorriu.

–Está oficialmente separada. –Anunciou, esperando que eu mostrasse empolgação pelo ocorrido. Estranhamente não fui capaz sequer de lhe dar um sorriso falso. Seu discurso, que deveria me deixar radiante, só aumentou aquela dor no peito que comecei a sentir na manhã após minha briga com Edward, quando notei que minha aliança havia sido retirada do meu dedo.

...

–Então nossa amiga está oficialmente separada... Precisamos comemorar! –Jess disse empolgada, balançando os braços como se estivesse assistindo a um show. Angela tinha seus olhos fixos em mim, lendo-me como sempre fazia. Ela não ousou entrar na onda de Jessica, o que eu agradeci. Não estava a fim de comemorar minha situação.

–Não acho uma boa idéia esticarmos a noite. Bella parece cansada e eu também combinei de jantar com o Ben. –Eu sabia que era uma desculpa de Angela para me poupar do comportamento esfuziante de nossa amiga e agradeci mentalmente por isso. Eu só queria sair daquela lanchonete e ir para casa.

–Vocês parecem umas velhinhas! Pelo amor de Deus amanhã é domingo e não teremos que trabalhar! –Jess esbravejou totalmente indignada com as amigas incrivelmente paradas que tinha. Com essa eu tive que rir, pois apesar dela ter contribuído algumas vezes com situações no mínimo embaraçosas me envolvendo, eu não conseguia sentir raiva dela.

–Lamento Jess, deixa para outra hora. Eu preciso ir agora. –Angela levantou-se. –Você vem Bella? Podemos dividir um taxi. –Sugeriu. Levantei-me, postando-me ao seu lado.

–Sim. Eu tenho que ligar para o meu advogado e perguntar se ele de fato já deu entrada nos papéis perante o cartório. Também tenho que arrumar o meu apartamento. –Era tudo mentira, eu só queria ir para casa e dormir. Havia sido um dia difícil e eu não queria demonstrar o quão fragilizada eu estava por ter oficializado o meu divórcio.

–Suas chatas! Não tenho escolha, vou para casa também. –Jess levantou-se, emburrada, e seguimos as três para casa. Fui a primeira a ser deixada pelo taxi e, ao contrário do que havia dito as minhas amigas, eu não liguei para o meu advogado ou limpei minha casa. Tomei um demorado banho e fui direto para a cama. Não dormi de imediato como eu queria e não pude evitar de fazer uma breve reflexão dos últimos dias.

Quatro dias haviam se passado e não vi ou recebi alguma ligação de Edward. Meu advogado fora acionado por mim hoje pela manhã e a tarde, no meu horário de almoço, ele já estava de volta com os papéis assinados. Disse que não tivera quaisquer problemas com Edward, muito pelo contrário, Edward foi mais solicito do que poderíamos esperar. De acordo com o senhor Smith, Edward, ao saber do que se tratava, pediu os papéis e simplesmente os assinou, indo para uma reunião logo em seguida. Tolamente eu me perguntava se todo o sentimento que ele dizia nutrir por mim havia evaporado. Que idiotice! Eu não deveria pensar dessa forma, afinal de contas fui eu que quis o nosso fim. Eu deveria aceitar com a maior naturalidade os últimos acontecimentos e seguir em frente como ele parecia estar fazendo... Mas estranhamente eu não estava conseguindo.

“Aprenda a lidar com isso Bella, por que as coisas permanecerão desse jeito você querendo ou não.” – A racionalidade gritava tais palavras, mas não consegui apreender tudo o que me foi dito. Querendo me distrair com outra coisa além do trabalho, sai com minhas amigas, mas isso não me adiantou muito. Ainda sim u estava disposta a seguir em frente, de uma forma muito mais definitiva.

Eu não sabia, sequer desconfiava, que minha vida daria uma guinada fatal na manhã seguinte.

Acordei com o barulho do meu telefone. Deixei tocar varias vezes até cair na caixa postal. Eu me sentia incapaz de fazer algum movimento para sair da cama. Quando o meu celular tocou em cima do criado mudo eu não tive desculpas para não atender. Fiquei surpresa por ser uma ligação da Angela, ela não costuma me ligar tão cedo; esse costuma ser um mérito de Jessica.

–Angela? O que foi? –Perguntei ao atender a ligação, sentando-me na cama. Olhei por reflexo o relógio que também ficava no criado mudo; eram oito e vinte da manhã.

–Bella, já acordou? Você está com sua televisão ligada? –Sua voz estava estranha, transmitindo uma urgência atípica da pessoa dela.

–Acordei agora a pouco. Por que você quer que eu veja o noticiário? –Levantei da cama, indo até a sala. Encontrei o controle remoto embaixo de uma das almofadas do sofá.

–É melhor você ver, eu não saberia explicar. –Ela falou do outro lado da linha. Fiz o que ela me pediu, ligando a televisão. Após zapear pelos canais, eu parei no único que exibia aquele horário um noticiário.

No início eu não compreendi o porquê da urgência de Angela para que eu assistisse a noticia. O que aquele acidente de transito tinha haver comigo? E então, enquanto dava mais e mais atenção ao que estava sendo dito, senti tudo a minha volta empalidecer, menos a televisão.

Com as pernas trêmulas, sentei no sofá, deixando o celular que antes eu segurava no meu ouvido escapulir da minha mão. O controle remoto também foi junto, e posso apostar que o controle que eu tinha por mim mesma também caiu no chão.

–Deus... –Murmurei, reconhecendo quem havia se acidentado naquela tragédia. Eu conhecia – claro que conhecia! Estupidamente me senti mais jovem, retornando aquela tarde de sábado quando a policia veio me comunicar a morte de meus pais. Depois do incidente, eu pensei que jamais passaria por uma coisa parecida, mas lá estava eu, vivendo aquele inferno novamente.

Precisei de alguns minutos parada, atônica, com o que acabara de saber. Quando despertei da letargia, corri pelos cômodos como uma louca, apressada em me vestir e sair de casa. E eu pensamento me ocorria vertiginosamente, enquanto arrancava as roupas do corpo e seguia para o banheiro, a fim de tomar um banho antes de sair:

EU PRECISO VÊ-LO!

Edward pov’s

Após fazer café suficiente para dois na minúscula cozinha, o que certamente ficou uma porcaria pela minha inexperiência em preparar qualquer coisa, eu sentei no sofá da sala. Bebericando o café feito por mim, pensei nos últimos acontecimentos e como eu procederia a partir de agora com Bella.

Alice havia me ajudado muito, dando-nos uma oportunidade de agirmos com sensatez um com o outro, diferente das outras vezes que nos encontramos desde que Bella decidira pelo divórcio. Agora eu precisava agir, tocar o coração da mulher que eu amava de alguma forma, na tentativa desesperada de uni-la a mim. Mas como eu faria isso sem assustá-la ou aborrecê-la? Como eu faria para ela olhar somente para mim?

“Eu preciso esclarecer tudo de uma forma que nunca fiz antes. Talvez assim ela possa...” –Meus pensamentos foram interrompidos por passos no corredor. Então ela havia acordado. Beberiquei um pouco mais do café, tentando montar um plano, mas sabendo que fracassaria miseravelmente ao pô-lo em prática.

–Edward, o que está fazendo aqui?! –Ouvi a voz alarmada de Bella perguntar. Isso gerou um grande aborrecimento para mim. Eu não acreditava que ela tinha bebido o suficiente para esquecer-se de tudo. Eu poderia apostar que ela fingia para não ter de tomar alguma atitude. Deixei minha xícara de café na mesinha de centro a minha frente e me concentrei nela. Eu poderia ignorar sua atitude confusa e irritadiça, mas não consegui.

–Não faça isso, por favor. Você bebeu ontem, mas não o suficiente para esquecer tudo o que aconteceu. Noite passada nós jantamos e você me deixou ficar aqui. –Falei nervosamente, esperando que ela não negasse. Tínhamos evoluído de certa forma, eu não estava preparado para regredir e voltar à estaca zero.

A expressão confusa no rosto de Bella assumiu um aspecto aborrecido, raivoso, mas esse detalhe não me intimidou como deveria.

–Não me lembro de ter dito algo como “Edward, fique aqui comigo”. – E bem como eu imaginei ela negava o que havia feito. De fato ela bebeu mais do que poderia, tendo atitudes obliquas, mas eu não acreditava que não se lembraria de nada. Eu já a conhecia bem o suficiente para saber que ela tendia a fingir esquecimento quando alguma coisa fugia do seu controle.

–Quando eu perguntei a você se poderia ficar aqui, você disse algo como ‘eu só tenho essa cama para dividir’. Para mim isso foi um sim. –Soei sarcástico, destilando o meu veneno. Não deveria agir dessa forma, ela poderia se afastar ainda mais de mim, mas não conseguia agir normalmente diante de sua atitude infantil.

–Aposto que se eu falasse não, você ouviria um sim. Estou certa? –Com essa frase eu tive que rir. Eu conhecia a mulher com quem eu havia me casado como nunca conheci mulher alguma e ela, inexplicavelmente, também me conhecia bem. O fato dela saber quem eu sou, até mais do que eu mesmo saberia, me encheu de estranho contentamento. Se isso não era uma prova de que éramos um casal em perfeita sintonia, capaz de decifrar o que o outro pensava, então eu não entendia mais nada de relacionamentos.

–Absolutamente certa. –Disse, erguendo minha mão, num convite para que ela sentasse ao meu lado no sofá, mas ela não compreendeu meu ato. -Venha, sente-se. –Dei espaço a ela e esperei. Ela relutou, parecendo mais e mais temerosa, como se eu fosse fazer algo contra ela. Bem, ela realmente tinha que se preocupar. Mesmo vestida num pijama largo que desfavorecia seu corpo, ela me parecia a mulher mais linda que eu já vira.

–Edward, eu não tenho tempo para conversar. Vou acabar chegando atrasada do trabalho e... –Inventava desculpas, incoerente, querendo sair daquela situação. Eu não permitiria. Além disso, eu sabia qual era o seu horário de trabalho, ela não se atrasaria nem se perdesse uma hora comigo.

–Sente-se Bella. Eu sei que você tem tempo, acordou cedo e se arrumou rápido. Além disso, eu não vou demorar com o que falarei. –O plano veio rápido e optei por fazer algo que negligenciei durante muito tempo. Contar tudo, absolutamente tudo. Ela conheceria o Edward que tentei mascarar até de mim mesmo. Segurei sua mão, puxando-a para perto, desejando que através do meu toque a raiva que sentia ao saber de tudo, em detalhes, fosse amainar.

Por fim Bella cedeu, sentando ao meu lado, mantendo uma distancia segura de mim. Provavelmente queria que eu soltasse sua mão, mas eu não permiti tal coisa. Continuei a segura-la, apreciando aquele contato como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo. Os olhos cor de chocolate fitaram meu rosto, nossas mãos entrelaçadas, e suspirou.

–Edward, não é por que nós jantamos ontem e você dormiu aqui em casa que...

–Eu sei. –É claro que eu sabia. Se tivesse de fato mudado algo, ela não me trataria como um desconhecido, como agora.

–Escute tudo o que tenho para dizer, por favor. Sei que já tivemos essa conversa, mas você nunca me ouviu. Você fingia ouvir. Me escutará agora? – Eu estava preparado para uma recusa, mas Bella pareceu concordar. –Eu quero contar tudo, coisa que eu deveria ter feito anteriormente.

–Eu não quero ouvir por que eu já sei o que vai dizer. Estou tão cansada disso! –Subitamente afastou-se, o que me deixou confuso. Pude perceber que uma parte dela queria de alguma forma nossa reconciliação, mas havia outra que desejava se afastar de mim. Ou talvez eu só estivesse me iludindo.

–Você não ouviu antes, como eu disse, e sim fingia ouvir. –Protestei, lembrando-me das vezes em que eu falei alguma coisa e ela me olhava completamente ausente.

Dessa vez era diferente, eu podia sentir. Ela, mesmo relutante, aceitou. Era a minha chance de tentar convencê-la a me escolher. Respirei fundo, tentando me acalmar, procurando as palavras certas. Um erro meu, agora, e tudo estaria perdido.

–Não vou começar pela minha infância, disso você já sabe. Mas devo lembrá-la que muito do meu comportamento tenebroso é reflexo do que vivi quando pequeno. Eu deveria ter me tornado o oposto do meu pai, mas não foi o que aconteceu. Eu consegui a proeza de ser o pior, um narcisista materialista ao extremo, ávido pelo poder e por uma vida de luxúrias.

Eu estava realmente desesperado, disposto a contar os meus pecados. Como eu me envergonhava deles! Como eu pude sentir prazer em magoá-la no passado? Eu realmente fora um sujeito detestável!

–Eu não tive as melhores experiências com mulheres, à maioria que se aproximava era por interesse. Passei a tratá-las como objeto, tal qual me tratavam. –As lembranças vinham me assaltar. Tive muitas mulheres, de exuberância sem igual, e falsas como só o diabo poderia ser. Elas gostavam de mim, claro. Eu tinha boa aparência e isso certamente me renderia boas mulheres, por mais que eu não fosse rico. Ainda sim eu sabia... Muitas delas estavam pelo que eu representava na sociedade e não por mim. Elas não diziam isso na minha frente, mas falavam para as amigas. As vezes eu estava no lugar errado na hora errada.

–E eu fui uma delas, certamente. – A voz de Bella, num tom tristonho, me tirou do meu devaneio. Eu poderia negar, evitaria a humilhação dela, mas não me sentia bem em mentir.

–Sim, no começo. Meu pai estipulou aquela cláusula idiota e eu queria cumpri-la a fim de conseguir minha herança. Eu não medi esforços para conseguir o que era meu por direito. Eu estava disposto a pisar em qualquer um. – Pela expressão do seu lindo rosto, eu sabia que minhas palavras estavam ferindo-a demais. Eu também me feria a cada palavra proferida, sabendo o quanto custava a ela a verdade. Será que Bella acreditaria em mim se eu dissesse o quanto doía relembrar o passado?

–Além de me casar por um ano... – Continuei. –... Eu precisava de alguém que Alice aprovasse. Vi vocês certa vez e eu a escolhi pelo bom relacionamento demonstrado por vocês duas. Eu agi como um patife, iludindo-a a fim de apressar as coisas. Já tinha tudo planejado: após o casamento eu faria você me pedir o divórcio, já que eu não poderia fazer isso por um ano.

–Você me prejudicou tanto só para ter o seu dinheiro... – Ela começou a chorar e uma dor atingiu o meu peito pela cena de vê-la verter lágrimas. Enxuguei delicadamente aquelas lágrimas que escorriam de seus lindos olhos, acariciando o seu rosto, desejando reparar, de alguma forma, todo o mal que fiz a ela.

–Eu era diferente naquela época, ainda sim não senti prazer eu machucá-la tanto. Foi muito difícil, mas acreditei que seria melhor agir daquela forma. Quanto mais rápido você pedisse o divórcio, mais rapidamente sairia daquele pesadelo. Pensei estar agindo com bom senso, sem tocá-la e destratando-a. –Eu tive meu lado nobre na minha época mais negra, pelo que eu me lembro. Por vezes quis parar de torturá-la no passado, por não me sentir a vontade em fazer algo ruim com uma pessoa tão boa. Mas isso jamais poderia, no final das contas, livrar a minha cara das burradas que eu fiz. Por que, no final das contas, eu a havia prejudicado.

–Por que as coisas mudaram? O que fez as coisas mudarem? –Ela perguntou antes que eu explicasse. Bem, agora era hora de pintar um quadro muito mais bonito do nosso relacionamento.

–Eu descobri o meu amor por você. Deveria ter confessado o que eu sentia, mas não o fiz. Eu demorei a admitir o que sentia. Você foi a primeira mulher por quem eu me apaixonei e eu estava tão desnorteado com isso! Bella... Eu errei muito com você, movido pelo amor, pelo ciúme, pelo desespero. Deus sabe o quão confuso eu estive nos meses que se seguiram. Nosso relacionamento se transformou num caos completo principalmente por que você me destratava e eu espelhava o seu comportamento. Não conseguia ficar calmo e tratá-la com amor como você merecia. Foi só quando eu a vi com o tal Jacob que eu percebi o quanto fui burro em não expressar meus sentimentos. Mais uma vez agi precipitadamente, temeroso em perdê-la. Não sei se foi um erro ou acerto o que eu fiz naquela noite, mas graças a isso ficamos juntos. Eu pude quebrar as barreiras que me envolviam e confessar meus sentimentos. Deveria ter esclarecido tudo sobre o contrato, mas temi perdê-la.

Eu lembrava. Era vivo em minha mente o que passei com Bella. Que caminho tortuoso seguimos, caindo mais do que levantando, até descobrirmos uma ínfima felicidade ao lado do outro. Por mais que eu me arrependesse do que fizera, não poderia jamais querer voltar atrás e descumprir a clausula de meu pai a fim de poupá-la de tudo. Se não fosse pelos erros iniciais que cometera a ela, eu jamais teria descoberto o amor. Era angustiante os sentimentos que me tomavam, somados a expectativa do que Bella diria ou faria. Talvez ela me odiasse menos se compreendesse como minha mente funcionava antes, mas simplesmente não me odiar não bastaria para mim. Eu precisava tê-la em toda a sua totalidade.

–Você deveria ter me contado. –Ela dizia sem me olhar nos olhos. –Se tivesse me esclarecido tudo, as coisas teriam se resolvido. Mas agora...

Suas palavras foram como um açoite em meu corpo. O modo como falava... Não, não poderia ser uma despedida!

–Não diga nada definitivo, não ainda. Me deixei tentar, eu ainda tenho forças para lutar por você. – Implorei. Eu tinha forças para lutar e rezava fervorosamente para Bella ter paciência para comigo.

–O que você quer que eu faça afinal? Desistir do divórcio e voltarmos a viver como marido e mulher? Fingir que nada aconteceu? Edward, eu não sou assim tão nobre. E eu descobri um amor próprio muito grande em mim para ignorar todo o mal que você me fez. –Era isso o que eu queria, um recomeço. Gostaria que Bella deixasse para lá tudo o que eu fiz. Fácil para mim, difícil para ela.

–Não estou pedindo para ficar comigo aqui e agora e desistir da separação. Eu só quero que pense um pouco mais sobre isso e perceba que o melhor seria ficarmos juntos. Prometa-me Bella, por favor. –Eu não poderia deixar de dizer isso, falar que o melhor era ficar comigo. Eu sei, ridículo fazer propaganda de mim mesmo. No entanto, eu não iria ressaltar minhas deficiências e dizer algo altruísta como “decida-se meu bem e acato sua decisão”. Não estava na minha constituição básica.

Eu esperei, irracionalmente ansioso pela sua resposta. Não queria pensar em Bella dando-me uma negativa ao meu pedido, mesmo que eu devesse esperar.Mas ela me surpreendeu, como sempre fazia.



–Tudo bem Edward. Eu prometo pensar um pouco mais sobre isso.

Eu já tive muitos momentos felizes na minha vida. Lembro-me de comprar um carro Sport e fazer inveja para alguns sanguessugas da faculdade; lembro de ter ficado com uma das modelos mais cobiçadas dos Estados Unidos, causando inveja de homens e até mulheres; lembro de quebrar empresas concorrentes e adorar a sensação... Nenhuma felicidade que senti até hoje, quiçá o sorriso de minha mãe quando ainda era amada pelo meu pai, poderia ser comparado ao que eu senti quando Bella disse aquelas palavras.

Meus braços a puxaram para mim, apertando-a. Seu cheiro, o frenesi, assim como o calor do seu frágil corpo e tudo o mais que emanava dela. Uma sensação de alivio me atingiu ao perceber que, enfim, o nosso sofrimento teria os dias contados.

–Era só isso o que eu precisava. Eu sei que eu não mereço, mas agradeço mesmo assim pelo benefício da dúvida. – Eu me afastei a fim de não sufocá-la com minha euforia. Ao soltar sua mão, Bella apressou-se em retirar a aliança que eu havia colocado na noite anterior.

–É melhor ficar com isso por enquanto. Eu não quero ter de dar explicações. – Eu não gostei do seu ato. Queria deixar aquele anel ali para sempre, amalgamá-lo em seu dedo anelar esquerdo para sempre. Rápido como um felino, capturei sua mão, apressando-me em colocar em outro dedo, se o dedo anelar a incomodava. Coloquei no dedo do meio da mão esquerda, esperando que meu pequeno capricho fosse aceito.

–Como estou em estado probatório, o anel ficará aqui. Ninguém fará perguntas. Só retire o anel se decidir pelo não e eu espero sinceramente que isso não ocorra. – Eu não conseguia esconder o contentamento e felicidade que sentia, cravando assim um sorriso nos meus lábios.

Eu experimentei sentir uma certeza de que as coisas acabariam bem sem igual.

Como saindo de um transe, Bella subitamente afastou-se, olhando o seu relógio.

–Eu preciso ir agora. –Como um animal acuado, só restava para ela correr. Eu sabia que não seria bom pressioná-la mais, deveria deixá-la ir, mas minha necessidade em tê-la por perto suplantou, como sempre, a racionalidade.

–Quer uma carona? –Perguntei, querendo alongar o tempo com a sua companhia. Ela não aceitou. Provavelmente faria o possível para escapulir. Murmurou algo como ir de moto, mas não dei ouvidos. Naquele momento, só me interessava saber se eu poderia matar aquele desejo insano de beijá-la.

Durante dias, semana, até meses, após a nossa separação, eu ansiei por isso. Poucos foram os momentos que consegui saciar a minha fome por ela, quando roubava beijos em nossos turbulentos encontros. Ainda sim, beijos roubados nunca foram o suficiente. Eu precisava de mais, coisas que só Bella poderia me dar. Eu queria tudo de bom grado.

Eu já estava próximo o suficiente e quando Bella percebeu isso, era tarde demais. Meus olhos percorriam cada pedaço daquele corpo que por tantas vezes eu tateei, conhecendo-o como nenhum homem conheceu ou irá conhecer. Com minhas mãos segurei seu delicado rosto, impedindo-a de se libertar do que eu estava prestes a fazer.

–Eu posso? – Pedi, mas Bella certamente percebeu a essa altura que um “não” seu não me pararia. Nada nunca me parou, principalmente quando se trata dessa mulher. Ela pareceu chocada demais com meus atos, sem saber o que fazer. Ótimo, um deslize seu era tudo o que eu precisava para fazer o que quisesse. Surpreendentemente ela recuperou alguma razão e falou:

–Permitir que me beije não é um sim à reconciliação.

Eu a beijei, sentindo algo aterrador me tomar. Eu poderia sentir, mais claramente agora, a esperança de que voltaríamos. E aquela alegria, euforia, e tantos outros sentimentos bons me sufocaram. Eu a beijei tão desesperadamente, como um drogado quando, após muito tempo, tem sua dose de heroína. Minhas mãos tatearam seu corpo quente e macio; meu olfato tentou registrar o cheiro intoxicante daquela fêmea que tantas vezes marquei como minha; meus lábios estavam junto aos seus enquanto minha língua explorava timidamente o interior da sua boca. Meus braços a prenderam fortemente contra mim, querendo fundi-la ao meu corpo.

Bella foi reagindo a mim e não de uma forma que me desagradasse. Pela primeira vez após a nossa separação, ela me permitia tomá-la em meus braços e beijá-la como antes. Não... O modo como estávamos agora, entregues a um desejo fortemente reprimido, não é como costumava ser. O que estávamos sentindo era algo muito mais poderoso, assustando-nos. Quando dei por mim, nós estávamos prestes a perder o controle. Eu me afastei, relutante.

–Vou acabar perdendo o controle assim. É melhor eu parar enquanto ainda conservo um pouco de racionalidade. –Um beijo cálido em sua testa, nada mais. –Eu estarei esperando por você. – Eu esperaria e sabia, intuitivamente, que não precisaria esperar muito.

Dei espaço a ela, sem temer que Bella decidisse se afastar de mim. Isso não iria acontecer. Ela voltaria para os meus braços e dessa prisão não se soltaria nunca mais.

...

Uma passada rápida em meu apartamento para tomar um banho e trocar de roupa. Ignorei as repreensões de minha secretaria acerca do meu atraso e segui com a leva de compromissos marcados para o dia. Lembrei, tardiamente, que teria de ir a um evento, mas isso não me aborreceu.

Eu estava nas nuvens

Embora fizesse impecavelmente o meu trabalho, eu não consegui deixar de pensar nela. Bella ocupava a minha mente mais do que o oxigênio nos meus pulmões ou o sangue em meu corpo. Eu era todo célula, livre e pulsante, e não havia uma única parte de mim que não pensasse na mulher amada e a desejasse. Não demoraria a nós ficarmos juntos, mas isso não diminuiu em nada a minha paciência.

Por vezes eu quis ligar para ela, mandar uma mensagem para o celular ou um e-mail. Até cogitei a possibilidade de comprar um buque de rosas online e enviar para o seu trabalho, mas desisti. Eu achei que esse era o momento para deixá-la com suas reflexões e nada mais. Eu poderia eventualmente compensá-la depois, enchendo-a de presentes dos mais variados tipos, dando a ela uma vida de rainha.

“Acalme-se Edward ou você fará alguma besteira.” –Minha mente ordenou e eu aceitei sua ordem, amuado.

Foi naquele momento que um pensamento encorajador me tomou. Rapidamente caminhei até a minha mesa, abrindo meu notebook e conectando-o a internet para ler um e-mail que eu recebera semanas atrás. Foi difícil, mas eu o encontrei e li. Sobre o evento que eu iria naquela noite...

–Este evento é promovido pela empresa em que a Bella trabalha... –Murmurei para ninguém em especial, com os olhos fixos na tela. Sorri abertamente. Por mais remota que fosse, era uma chance de vê-la. E me vi, estupidamente, fazendo planos para aquela noite como um maldito adolescente diante do primeiro amor.

...

Uma chatice.

Sim, o evento estava transcorrendo bem e por isso mesmo estava uma droga. Cumpri impecavelmente o meu papel, cumprimentando a todos e falando sobre possíveis parcerias de empresas presentes com a minha empresa.

Eu já estava naquele maldito lugar a mais de uma hora, olhando o tempo todo para a porta, esperando ela entrar. Nada. Eu já deveria saber, Bella nunca curtiu muito eventos de qualquer natureza, mas eu esperava mesmo assim que ela fosse. Assim eu teria ago maravilhoso para olhar e poderia seguir com os meus planos de convidá-la para jantar após o evento. Quem sabe poderíamos ir ao seu apartamento, só nós dois e...

Um rapaz corpulento passa ao meu lado, capturando minha atenção. Eu o reconheci de imediato, era Jacob. Uma onda nauseante de ódio me tomou e eu o acompanhei com o olhar, querendo esganá-lo. Eu sabia, eu mais parecia um animal com esses pensamentos, mas não conseguia evitar. Era uma reação até natural quando estou diante do homem que tentou roubar minha esposa.

Após reconhecer Jacob, desejei que Bella não viesse ao evento. Eu não queria que ela o encontrasse. Procurei novamente Bella com o olhar, sem saber agora se queria que ela estivesse lá ou não. Foi em um canto afastado, sentada em uma mesa com uma colega de trabalho, que eu a vi.

Primeiro eu me deixei levar pela sua beleza, ela estava deslumbrante! Pude vê-la ainda melhor quando Bella, após Jessica se afastar (sim, era a minha antiga funcionária com ela), levantou-se e seguiu para uma das sacadas daquele andar. Apesar de vestida com simplicidade para os padrões do evento, ela era a mais deslumbrante da noite.

Alguém conversava comigo, perguntando-me como iam o mercado de ações. Ora, foda-se! Quem liga para essa merda? Eu tinha assuntos muito mais importantes a tratar! Inventei desculpas, ainda com os olhos na sacada. Os homens que falavam comigo não me davam abertura para sair, instigando-me com perguntas a respeito da Cullen publicidade. Foi para lá que ela seguiu, parecendo alheia a tudo.

Saberia ela que eu estava no mesmo evento? Talvez não. Meus pés batiam impacientes no piso enquanto eu tentava me afastar daqueles homens.

Jacob.

Eu o vi se mover rapidamente para o lugar onde Bella estava, sabendo, eu tenho certeza, que ela estava lá. O que ele pretendia? O que esse filho da puta queria com a minha mulher? Eu iria descobrir e não seria da forma mais diplomática.

Deixando aquele bando de babacas falarem sozinhos, eu segui como um touro enraivecido em direção a sacada. Eu esperava encontrar alguma cena que me desse razão para parti-lo ao meio, como ele tentando agarrar Bella contra a vontade dela. Eu queria ver algo do tipo, dando-me motivos para agir...

Ele estava próximo demais de Bella e seu paletó estava no ombro dela, aquecendo-o. Bella o olhava de uma forma familiar para mim, eu já tinha visto aquele olhar antes. Ela o adorava, isso ficou claro, mas o quanto ela o adorava? E quando vi a mão de Jacob acariciar seu rosto e os dois se deixarem levar para um mundo onde eu não poderia pisar, eu pensei “Isso foi demais”.

O ódio conseguiu arrancar uma lágrima solitária dos meus olhos e então não enxerguei mais nada. Tudo estava vermelho. Eu, ali, como um idiota, esperando, suplicando para que voltássemos e Bella com Jacob. O modo como ele a estava tocando, como se o seu toque fosse familiar para ela. Por que Bella olhava para aquele cretino desse jeito? O que eu estava perdendo?

“Ela está me sacaneando! Aposto que é um plano deles para me humilhar! Ela ainda me odeia e está brincando comigo! Eles estão se divertindo com o meu sofrimento!” –Os pensamentos eram caóticos, atingindo minha cabeça com o poder de um soco. Movido por tantos sentimentos negativos, eu me manifestei.

–BELLA! O QUE SIGNIFICA ISSO? –Gritei, sentindo uma raiva homicida me tomar. Não parei para refletir sobre minhas ações. Subitamente avancei para Jacob, socando-o fortemente no rosto. E, confesso, a satisfação que senti ao feri-lo poderia ser comparada com um orgasmo.

Bella gritava meu nome, mas não dei importância. Avancei novamente, querendo jogá-lo daquela sacada e vê-lo se acabar lá embaixo. O idiota reagiu, empurrando-me, ainda zonzo pelo soco. Senti braços tentando me agarrar, mas sequer olhei para conferir quem estupidamente estava tentando me puxar. Empurrei o individuo fortemente, ouvindo quando ele chocou-se contra uma vidraça. Tentei socar novamente Jacob, mas ele se esquivou, dando-me um soco. A dor foi forte, mas não o suficiente para me fazer parar. Eu não pararia de atacá-lo até que a minha raiva amainasse, o que poderia não acontecer.

Repentinamente mãos me agarraram e não consegui me libertar. Tentei, sem sucesso, avançar para Jacob. Ele levantou-se, tentando se recuperar. Ninguém ousou segurá-lo.

–VOU MATAR VOCE SEU DESGRAÇADO! –Eu gritava, enlouquecido. Odiava mortamente aquele canalha por tentar tirar não uma, mas duas vezes aquilo que me pertencia. Eu iria ensiná-lo que não se brinca com Edward Cullen!

O idiota seguiu tranqüilo para longe, próximo da janela. Vi Bella caída no chão, olhando, ausente, para um ponto do piso. Arfei. Fora ela que eu jogara com violência contra a janela. Como pude ser tão irresponsável?!

–Você é um grande idiota. – O babaca disse enquanto seguia para o lado dela, ajudando-a a se levantar. –Você está bem? – Ele perguntou, o que Bella respondeu com um assentimento. Ela não olhou para mim e imaginei ser por que sabia que havia cometido uma falha grave comigo e não tinha coragem de me encarar. Saiu praticamente correndo, deixando para trás a mim, Jacob e as explicações que deveria me dar. Jacob olhou para a direção por onde Bella escapou e fez menção de segui-la, o que eu o brequei de súbito, ao empurrar aqueles que me seguravam.

–Fica longe dela. –Ameacei, praticamente correndo pelo salão a fim de encontrá-la. Não estava preocupado com os murmúrios que se seguiriam pelo escândalo. Danem-se os tablóides sensacionalistas! Eu tinha grana para pressionar a imprensa e calar a boca de todos, mas eu achava que não chegaria a vazar alguma coisa já que isso afetaria negativamente a empresa concorrente que promovia a festa.

Após cortar a multidão como um furacão, sem ao menos pedir desculpas pelos empurrões dados por mim, eu a encontrei. Eu a puxei pelo braço, fazendo-a parar num solavanco. Ela murmurou algo, surpresa, e ao encarar minha expressão facial furiosa, percebi que o sangue desaparecera de sua face.

–Aonde você pensa que vai? Acha que pode desaparecer sem me dizer nada? –Tentei, inutilmente, arrancar alguma resposta através de seu olhar, que sempre revelou seu estado de espírito. Eu nada obtive com a minha observação.

–Não tenho nada para dizer, é você quem me deve explicações e desculpas pelo que fez a mim e a Jake. –Não ousou me olhar, repelindo minha mão. –Me deixa em paz! – Gritou, correndo para a saída. Claro, fugindo... Sempre fugindo! Eu não iria deixar, eu precisava de explicações, de qualquer coisa! Novamente brequei sua saída, sentindo a fúria nublar minha mente novamente.

–Você é inacreditável mesmo! Vai se fazer de vítima agora? Sou eu a vítima aqui! Como pôde sair com ele, agindo como se fossem um casal? Acha mesmo que eu vou permitir que você brinque comigo como se eu fosse um palhaço? – Minha voz estava alta e eu sabia que tínhamos espectadores. Bella olhava apreensiva para todos os lados, não querendo ser a protagonista de algum escândalo. Ora, sou eu quem deveria me preocupar com esse tipo de coisa, afinal de contas eu tinha um nome a zelar!

–Eu não tenho que dar explicações a você! Eu não estou nem aí com o que a sua mente deturpada imagina! –Empurrou-me, correndo para a saída. Após me equilibrar de seu empurrão, corri para a saída, também, mais e mais enfurecido com a sua atitude. Ela iria me ouvir e teria de dar explicações, querendo ou não!

–BELLA! –Gritei, mas ela não se virou, agoniada para partir. Atravessou a rua sem olhar para os lados, desesperada demais para se importar com isso.

Acho que nunca esquecerei a cena. Ela ficará gravada, tatuada, na minha cabeça. Num segundo éramos apenas nós dois, fugindo do outro, com a nossa raiva. Segundos depois, havia mais um sujeito.

O carro freou com brusquidão, o que eu agradeci, e tentou, sem sucesso, não acertá-la. Bella, atordoada, colocou os braços instintivamente para frente, absorvendo o pequeno impacto com as mãos. Rolou pela estrutura do carro, caindo sentada no chão.

Gritos e pedidos de socorro soavam ao meu redor, mas eu os ignorei. O carro que a atropelara fugiu, como se ele fosse o responsável pelo atropelamento, quando tudo não passou de um incidente graças a imprudência de Bella. Quando meus músculos perderam a paralisia que a pouco os acometia, o desespero me tomou.

–BELLA! BELLA! – Corri ao seu encontro, erguendo o seu rosto e avaliando a extensão dos seus ferimentos. –Você está bem? –Tudo em mim estava um caos pelo medo que senti. Foi por tão pouco! E se o carro estivesse em alta velocidade? Ela poderia estar morta agora! A culpa não era do motorista, mas eu o amaldiçoei mesmo assim.

Ela não estava bem, apesar de não ter sido grave. S olhos estavam vidrados, em choque, parecendo alheia a tudo. Senti meu corpo inteiro congelar com a visão. Inesperadamente, Bella balbuciou:

–Preciso ir a um hospital.

...

Muitos sentimentos me tomavam enquanto levava Bella para um hospital, e nenhum deles era bom. A culpa me açoitava e minha mente constantemente produzia imagens do que poderia ter acontecido de mais grave.

Bella estava anormalmente calada, em choque, suponho. Eu queria abraçá-la, dizer que ficaria tudo bem e beijá-la inteira, mas não poderia. Havia alguma coisa nos seus olhos ausentes que me repelia.

Felizmente não ficamos muito tempo esperando para ela ser atendida. Tão logo chegamos e um médico cuidou do caso. Bella não havia fraturado nada, apenas um trinco no osso, nada mais. Ela precisaria usar algo para imobilizar o pulso lesionado e remédios para dor. E mesmo assim...

Eu estava me doendo de culpa, medo, amor... Querendo seu perdão pela minha atitude que quase causou um mal sem precedentes a ela. Ao mesmo tempo as cenas de Jacob tocando o rosto dela me atormentavam e me perguntei se de fato estava sendo enganado. Eu não sabia como deveria me sentir... Vítima ou vilão?

–Você está bem? Está doente muito? –Eu perguntei pela décima vez enquanto seguíamos de carro para a saída do estacionamento do hospital. Bella nada falava nem fazia qualquer gesto para responder as minhas insistentes perguntas e eu sabia que isso não era nada bom.

Eu a levei a farmácia, comprando o que o médico receitara. Decidi levá-la para casa, comunicando minha decisão. Bella continuou parada, afagando distraidamente o local lesionado, sem questionar minhas atitudes. E eu pensei que preferiria vê-la esperneando ante a idéia de eu levá-la para casa do que esse silêncio sepulcral.

Nada de muito importante foi falado durante o trajeto até o apartamento de Bella. Queria me assegurar que ela ficaria bem, assim como também queria esclarecer o que houvera entre ela e Jacob durante o evento. Para a minha surpresa ela não protestou quando eu subi junto a ela. O porteiro, acostumado a ter de me barrar, olhou para nós dois com espanto. Bella foi caminhando mais depressa após sairmos do elevador e eu rapidamente me emparelhei com ela, não querendo dar espaço para ela fechar com a porta na minha cara. E de fato Bella, após abrir a porta, tentou fechá-la. Eu me coloquei entre a porta, impedindo-a de fechar. Precisávamos conversar. Se eu deixasse essa situação sem ser resolvida, novamente nos distanciaríamos...

–Bella, vamos conversar. –Pedi, vendo-aela olhar para todos os lados, como se procurando um local para escapar de mim. Eu não iria deixá-la fugir sem ter as minhas respostas.

Eu não esperava pelo que veio a seguir.

Bella começou a gritar, atirando quaisquer objetos ao alcance de suas mãos no chão. Eu olhei, atônico, a cena. Ergui minhas mãos, inúteis, em sua direção, querendo faze-la parar. Se continuasse daquele jeito, ela poderia se ferir.

Por quê? Por que ela estava gritando? Por que seus olhos tinham um brilho perigoso que indicava loucura? Por que agora ela puxava os cabelos, num ato de autoflagelação? O que causava essa dor toda? Quem estava fazendo isso com ela? Seja lá quem fosse eu seria capaz de exterminar com o desgraçado!

–Eu não aguento mais! O que eu fiz para você me causar tamanha infelicidade? Por que você não me deixa em paz? – Ela gritou, em prantos.

Ah, era eu. Eu era o responsável pelas suas dores! O choque de saber de algo tão óbvio me fez arfar. Que tipo de monstro eu era afinal? Como eu pude desgraçar irremediavelmente a vida de alguém tão boa quanto Bella? As lembranças de tudo o que eu fizera desde que a conheci me tomaram e pude ver, mais do que em qualquer outro momento, o quão horrendo foram os meus crimes. Eu pensei que o narcisismo há muito tempo havia me abandonado, mas descobrir que eu ainda era um tolo egoísta foi um choque. Era sempre o que eu queria, quando e como eu queria. Meus desejos estavam destruindo a pessoa que eu mais amava!

Eu preciso deixá-la ir, pensei. Eu não confio em mim para fazê-la feliz, não mais. Eu precisava deixar de ser egoísta e fazê-la de fato feliz, mesmo que para isso eu devesse me afastar. Bella não merecia mais sofrer, ela não merecia mais ser pressionada a estar em um relacionamento tão turbulento. Deixe-a ir Edward! Deixe-a ser feliz!

Por quanto tempo ficamos imersos naquela agonia? Bella, sentada de qualquer jeito no chão, escondendo seu rosto ao encostar a cabeça nos próprios joelhos, parecia alheia a tudo. Ela parecia uma menininha imersa em um pesadelo, esforçando-se para acordar. E eu a ajudaria nisso.

Eu me aproximei cauteloso, não querendo despertar um novo ataque histérico. Com minhas mãos eu ergui seu rosto, fazendo-a me olhar. Bella arfou, assustada com o que via no meu rosto. Eu imaginei que minha expressão facial transmitia tanta dor, como um homem agonizando. Enxuguei algumas lágrimas que insistiam em sair de seus olhos castanhos, tão lindos, enquanto eu reunia forças para cortar os laços. Quando formulei o que diria, disse rapidamente, antes que a comoção me travasse a língua.

–Está bem... Eu vou deixá-la em paz como é o seu desejo e lhe darei o divórcio. Por que só assim eu provarei o quanto eu a amo, amo o suficiente para entender que o melhor para você é ficar longe de m... – Não consegui pronunciar nada. Me ver sozinho, sem Bella... Eu agüentaria? Certamente não. Seria um inferno ficar sozinho! Mas o que eu poderia fazer?

Apreciei aqueles poucos momentos, sabendo que seriam os últimos. Eu me perguntei se ela, num ato de generosidade extrema, me permitiria ficar ali. Eu não estava preparado para ir ao meu apartamento e me deparar com um lado da minha cama vazia.

–Eu só peço uma coisa, antes de desaparecer da sua vida... Eu imploro, deixe-me ficar aqui com você esta noite! – Pedi, numa suplica desesperada. Bella ficou atônica por mais tempo do que o aceitável, mas se recompôs. Não se dignou a me responder, mas também não me expulsou. Eu entenderia sua atitude como um consentimento para ficar.

Ela seguiu para dentro do quarto e eu sentei no sofá, sentindo o desespero me atingir pela decisão tomada. Eu havia feito uma grande burrada e não poderia voltar atrás. Eu precisava me manter firme por ela, só por ela, e assim provar que eu poderia ser uma pessoa melhor. Eu poderia provar que o meu amor era maior do que o meu egoísmo. Ei iria provar, mesmo que isso me destruísse.

Afrouxei a gravata borboleta. Retirei o paletó, desabotoando alguns botões da camisa. Relaxei no sofá gasto da sala de Bella, enquanto uma de minhas mãos bagunçava o meu cabelo.

Eu estava estranhamente relaxado, tentando dar alguma paz a minha cabeça, fingindo que não teria que dar um passo importante na minha vida na manha seguinte. Isso, ignorar o que se passava, como se fosse só mais um dia qualquer, faria com que tomar a decisão fosse mais fácil e assim não perturbaria ainda mais Bella. Levantei do sofá após algum tempo, aparentemente mais calmo, mas entorpecido demais graças a preparação psicológica que fizera minutos atrás. Entrei no quarto lentamente e a encontrei deitada de lado, olhando para a parede, de costas para mim.

Ela está com frio, constatei. Seus cabelos estavam meio úmidos do banho, esparramados no travesseiro. Eu poderia apostar que sua pele ainda estava um pouco úmida, aumentando assim o frio que sentia. Peguei um edredom que cobria a cama, abaixo dela, e o puxei a fim de cobri-la.Fiquei em pé, ao seu lado, olhando-a, contemplando-a. Provavelmente pela ultima vez. Senti um cansaço sem igual, o dia fora exaustivo, mas não estava pronto para fechar os olhos e não vê-la. Eu tinha que aproveitar cada segundo ao seu lado.

Ela agora me fitava confusa com a minha presença. Na certa pensara que eu tinha ido embora. Consegui, em meio aquele infortúnio, sorrir.

–Ultima chance: você quer que eu saia? –Perguntei. Bella, felizmente, não se manifestou. Sentei na cama, próximo a ela, esticando minhas pernas. O cansaço novamente me abateu, mas eu não iria dormir. Eu precisava aproveitar por que essa provavelmente seria minha última noite próximo à ela, a última noite em que eu a veria dormir.

Nós ficamos nos olhando e quis, mas do eu em qualquer outro dia, ler a sua mente. Bella estava tão plácida a me fitar, sem demonstrar qualquer emoção. De fato não encontrei amor naqueles orbes cor de chocolate, mas também não encontrei quaisquer sentimentos ruins que antes pareciam dominá-la.

A calmaria após a tempestade... Quase como se hoje fosse como qualquer outro dia, quando estávamos na mais perfeita harmonia, como marido e mulher.

Paulatinamente, Bella foi adormecendo, caindo em sono profundo mais rápido do que eu poderia imaginar. Quando senti segurança para agir, ergui uma mão e me pus a acariciar seus cabelos, bem lentamente, apreciando a macies de cada fio. Sorri diante daquele pequeno momento de prazer, agradecendo aos céus por tê-lo antes do fim.

Durante toda a noite eu fiquei daquele jeito, incapaz de pregar os olhos, mesmo diante de um cansaço colossal. Eu a olhei, e toquei seus cabelos e o seu rosto, memorizando cada pequena coisa. Em um dado momento eu me inclinei o suficiente para que meus lábios ficassem próximos de seu ouvido.

–Perdoe-me por ter sido tão bruto com você e com... –Respirei fundo. –Com Jacob. Eu não gosto dele e senti muito prazer em socá-lo, mas eu tenho que admitir que ele foi melhor para você do que eu. Ele soube amá-la melhor... –Lembrei da época em que Bella tinha um caso com ele enquanto éramos casados e não nos dávamos bem. Ela sorria com mais freqüência. Sorriu também na nossa melhor fase, mas o sorriso se esmaecia quando ela se lembrava do passado. Eu não poderia mudar o que havia feito então como diabos garantiria um futuro sem as manchas vergonhosas dos meus erros?

Logo o Sol subiu, indicando uma nova manhã. Atordoado, eu olhei para um relógio que ficava no criado mudo, constatando ser seis da manhã.

“Hora de ir...” –Pensei, cheio de tristeza. Sentindo o peito apertado e a garganta fechada, eu peguei cuidadosamente a mão esquerda de minha esposa, retirando a aliança que havia colocado em seu dedo médio na manhã anterior. Beijei sua bochecha, seus cabelos, sem beijar seus lábios. Não, eu não tinha mais esse direito. Outro homem, poderia ser Jacob, receberia essa dádiva.

–Bom dia, meu amor. –Ciciei em seu ouvido. Bella murmurou alguma coisa incompreensível, em sono profundo. –A partir de agora eu sei que você sorrirá com mais freqüência.

Levantei da cama, guardando a aliança dela no bolso de minha calça, como recordação. Dei uma ultima olhada para ela, achando-a tão linda como em qualquer outro dia em que a vi. Caminhei apressado para a saída, recolhendo meus poucos pertences. Enquanto seguia para fora, vestia o meu paletó e guardava a gravata em um bolso. Fiz menção de retirar minha aliança, mas não o fiz. Eu não conseguiria fazê-lo pelo menos por um tempo. Retirei as chaves do carro do bolso interno do meu paletó e entrei no veiculo.

Naquele momento, tudo o que tentei afugentar de mim a fim de me manter são diante de Bella veio à tona. Segurei fortemente o volante, segurando-me para não gritar. Minha cabeça tombou para frente, caindo em cima do volante.

Eu chorei, como há muito tempo não fazia. A última vez que isso aconteceu... Sim, foi no enterro de minha mãe. Depois disso meu coração se fechou para o mundo e nem mesmo a morte de meu pai conseguiu me comover ao ponto de chorar. Porém chorar me pareceu ser o mais adequado, como uma forma de aliviar a dor que grasnava em meu peito. E rezei para que isto, chorar, não fosse uma constante em minha vida.

E, lentamente, quatro dias se passaram...

Os quatro dias mais tediosos e frustrantes que alguém pode passar. Não liguei para Bella, não fui ao seu endereço, não fiz absolutamente nada. Mas me afastar e cumprir a minha promessa estavam sendo um preço caro demais para cumprir. Nesses quatro dias mergulhei no trabalho, a exaustão sentida por me dedicar exclusivamente a isso tem sido um poderoso aliado para me fazer dormir rapidamente, sem sonhos ou momentos de reflexão.

Alice ligara no terceiro dia, perguntando-me como as coisas estavam entre Bella e eu. Menti, alegando estar muito ocupado, conseguindo assim driblá-la. Ela não ficaria nada feliz se soubesse que concedi o divorcio após ter se esforçado tanto para unir a mim e a Bella. Eu sabia que não poderia esconder a noticia por muito tempo... Principalmente no quinto dia quando, logo pela manhã, recebi uma visita desagradável.

–... Basta assinar os papéis e tudo estará resolvido. –Comunicou alegremente o advogado de Bella, mostrando os lugares onde eu deveria assinar os papeis para, enfim, oficializar meu divórcio.

Eu usava uma máscara de tranqüilidade e indiferença, fazendo a tudo o que pediu o tal advogado, sem fraquejar. Quem olhasse a cena diria que eu não ligava para a situação, quando por dentro eu sentia estar à beira de um infarto.

Assinei todos os locais indicados e entreguei o documento ao tal senhor Smith.

–Acredito que era só isso. Eu estarei a disposição caso Bella queira alguma ajuda financeira. O que ela precisar, ela terá. –Disse, levantando-me de minha poltrona enquanto o homem guardava o documento em um envelope pardo.

–Acredito que a senhorita Swan não deseja isso. Ela repudia algum tipo de ajuda financeira. –Falou como quem acha estar dando uma boa noticia. Ah se ele soubesse que já não sou o homem apegado a bens materiais como antigamente!

–Imagino... –Meus bens certamente não eram a única coisa que ela repudiava, constatei com pesar. –Tenho uma reunião agora. Até mais. –Sai rapidamente da sala, antes que a minha cara, agora livre da máscara da indiferença, fosse notada por aquele sujeito. Eu me perguntei se alguém como ele sentia prazer em destruir vidas, por que era isso o que ele estava fazendo comigo ao ajudá-la com o divórcio.

O restante do dia foi difícil. Eu não consegui me focar no trabalho como tenho feito e sentia ainda o peso da caneta que usei para assinar os papeis que livrariam Bella definitivamente de mim. Por vezes perdi o fio da meada de alguma reunião, sendo perceptível minha desatenção. Afim de não prejudicar a empresa, cancelei, após o almoço, todos os meus compromissos, adiando-os para a próxima semana. Lembrei-me, desanimado, que no dia seguinte eu não precisaria vir à empresa. Ficar em casa apenas pensando na vida me assustava então decidi que aceitaria, quem sabe, o convite de Alice para ir à fazenda. Ela e Jasper já estavam lá há alguns dias. Peguei o meu celular após o almoço e liguei para ela.

–Maninho! Estava pensando em você agora mesmo, falando a seu respeito com Jasper. –Ela disse após atender. Bufei, ajeitando-me melhor na minha cadeira.

–Aposto que estava falando mal de mim.

–Imagina! Eu só falo mal quando você está presente. É mais divertido assim. –Riu escandalosamente do outro lado da linha, mas não pude acompanhá-la no riso. –Está muito sisudo. Aconteceu alguma coisa?

–Não. –Respondi, seco. –Amanha irei à fazenda. Só liguei para avisar. Peça aos empregados que preparem o meu quarto.

–Que ótima noticia! Bella certamente virá com você, não é? Estou precisando de alguém que me faça companhia nas compras! –Alice estava entusiasmada, achando que Bella e eu estávamos a um passo de ficarmos juntos para todo o sempre. Antes que eu pudesse pensar se seria sensato revelar a verdade, já estava contando.

–Eu dei o divorcio a ela essa manhã. –Minha voz estava morta, assim como todo o resto. Ouvi Alice arfar do outro lado da linha.

–O QUE? COMO PODE FAZER ISSO? SEU IDIOTA! EU TIVE UM TRABALHO DO CÃO PARA JUNTA-LOS E É ASSIM QUE VOCE ME RECOMPENSA? O QUE HOUVE? ENCONTROU ALGUMA MERETRIZ PARA SUBSTITUI-LA? –Ela gritava, ensandecida. Ouvi ao seu desabafo com mais paciência do que o normal, esperando que ela descarregasse toda a sua ira antes de eu me pronunciar. Após ouvir seus “elogios” sendo direcionada a minha pessoa, me manifestei.

–Eu Precisei fazer isso, Alice. Se continuássemos desse jeito, eu iria destrocá-la. –Minha voz ficou subitamente embargada enquanto as lembranças do que acontecera a quatro noites atrás novamente me atormentavam.

–-Do que você está falando Edward? Vocês estavam indo bem, como pode pensar em algo assim? Você cometeu muitos erros com ela, é verdade, mas nunca você iria...

–No dia seguinte ao jantar, nós estávamos bem. Mas eu cometi um erro imperdoável com ela. Eu a encontrei em um evento que fui naquela noite e ela estava com Jacob. Quando eu os vi juntos, eu perdi a cabeça. Eu agredi a ela e aquele cara. Por minha culpa, ela foi atropelada...

–O QUE? MAS ELA ESTÁ BEM? –Os gritos de Alice recomeçaram do outro lado da linha. Eu tratei de acalmá-la.

–Nada grave. Apenas um machucado no pulso, mas já deve estar sarado. Eu prometi a ela que não iria mais atormentá-la e estou cumprindo com o que prometi. O advogado dela veio com os papéis do divórcio e eu os assinei. –Não sei como consegui falar sem mais pausas. Eu sentia que a qualquer momento a comoção iria me tomar e eu perderia a voz.

Alice ficou calada por alguns instantes, parecendo processar a informação dada. Quando pensei que ela poderia ter desligado o celular, ouvi novamente sua voz.

–Como você está diante disso? –Sua voz parecia calma e eu poderia sentir a pena dela através daquele tom de voz. Droga, têm coisa pior do que receber pena dos outros? Eu poderia mentir e dizer que estava bem, mas ela perceberia. E, naquele momento, senti uma necessidade enorme de desabafar com a única pessoa que ainda restava.

–Estou desmoronando Alice. Meu único consolo é saber que ela poderá ter uma vida melhor sem a minha interferência.

–E quem garante que ela terá uma vida melhor? –Rebateu novamente colérica.

–Todo mundo garante, inclusive ela. Está na hora de parar com o meu egoísmo e deixá-la viver. Alice, eu não quero falar mais sobre isso. –Senti a cabeça latejar. Não era a primeira vez que eu tinha uma crise de enxaqueca. Massageei as têmporas com meus dedos da mão que não segurava o celular.

–Edward, eu poderia conversar novamente com ela e... –Proposto, conciliadora como só ela poderia ser.

–Não Alice. Deixe Bella em paz. Vai ficar tudo bem. –Para ela, completei em pensamento. Meu futuro era incerto. Ouvi um suspiro audível do outro lado da linha, parecia que na disputa de argumentos eu havia vencido Alice, finalmente.

–Edward, esse não é o melhor caminho. Para nenhum dos dois. Mas se é isso o que escolheu para si, eu... Eu só gostaria que você fosse feliz, você e ela. Não acho que encontrarão felicidade dessa forma.

–Ela encontrará felicidade dessa forma Alice. É só disso que eu preciso. Eu vou desligar. Espere-me na fazenda amanhã. –Desliguei, não agüentando mais a pena de Alice. Eu já sentia pena de mim mesmo, o que era deveras humilhante. Não precisava também da pena alheia.

Afrouxei a gravata, lembrando que havia cancelado meus compromissos do restante do dia. Percebi a besteira que havia feito e tratei de corrigi-la. Retomei aos compromissos, com a ajuda de minha secretária, sabendo que me entregar de cabeça ao trabalho era a única forma descoberta para amortecer a dor.

...

Todos os empregados da empresa já haviam ido embora, inclusive os que pegavam alguma hora extra. Eu estava lá, fazendo coisas que poderiam ser resolvidas daqui a um mês. Não que eu fosse algum maníaco por competência, eu não o era, mas estava evitando ir para o meu apartamento. Por isso eu permaneci altas horas da noite, sentindo o cansaço me abater, mas não querendo ir para casa. Talvez eu dormisse no escritório, me parecia uma idéia melhor. Pelo menos o sofá era estreito demais para eu sentir a falta de alguém ao meu lado.

Batidas na porta soaram, assustando-me. Eu sabia que não estava só, havia os seguranças no prédio responsáveis por vigiá-lo durante a noite, mas não imaginei que alguém viria até a minha sala.

–Entre. –Ordenei, deixando o que eu estava fazendo para olhar atentamente ao convidado.

Um dos seguranças da empresa passou pela porta, sendo acompanhado por dois oficiais da policia. Estranhei. O que diabos dois policiais estariam fazendo ali? Levantei cautelosamente, com meus olhos fixos nos dois policiais, tentando, estupidamente, lembrar se cometi algum crime sem ter percebido.

–Senhor Cullen... –O segurança da empresa começou, parecendo desconcertado. –Estes dois oficiais solicitaram uma audiência com o senhor. Souberam de alguma forma que o senhor ainda estava na empresa. –Após dizer isso, o segurança deu alguns passou para trás, ficando próximo à porta. Os oficiais ficaram próximos à mim, um ao lado do outro, numa postura excessivamente rígida.

–Senhor Cullen, viemos até aqui para comunicar ao senhor que, infelizmente,...

Eu ouvi a tudo atentamente, mas em um determinado momento, enquanto compreendia a mensagem, alguma coisa terrível se operou em mim. Meu corpo foi ficando estranhamente dormente e minha vista foi escurecendo. Eu me aproximei mais de minha mesa, tentando me sustentar com uma mão apoiada nela, mas foi inútil. Antes mesmo que os oficiais de policia terminassem com a notícia, eu já estava no chão. Tudo foi ficando escuro até que não vi, ou ouvi, ou senti mais nada.

Eu teria que agradecer aos céus por esse conforto.




Continua...




6 comentários:

Val RIBEIRO disse...

que triste.....o que aconteceu com ele?

Fran disse...

ai!!! que triste!! nossa chorei!!

tete disse...

nossa o que aconteceu ? espero que tudo fique bem beijos e uma otima noite para vce

Unknown disse...

Chorando rios aqui...
Depois de ler o CAP 34, relembrei a ler o CAP 33 para ver se tinha deixado passar algo.
Não esperava era mortes... São 02:41 da manhã e não consigo simplesmente parar de ler e nem de chorar!

Anônimo disse...

Cara eu amei essa Fic assim como muitas que já li..só o q ñ gostei mais vi que foi necessário foi a Alice e o Jasper morrendo..sei lá poderiam ter ficado em coma correndo risci e tal..ñ sou a favor de morte, mas a vida é assim!..Parabéns a escritora!

Anônimo disse...

Cara eu amei essa Fic assim como muitas que já li..só o q ñ gostei mais vi que foi necessário foi a Alice e o Jasper morrendo..sei lá poderiam ter ficado em coma correndo risci e tal..ñ sou a favor de morte, mas a vida é assim!..Parabéns a escritora!

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