WALTER SALLES FALA SOBRE A CULTURA BEAT, "ON THE ROAD" E SOBRE KRISTEN STEWART!

Walter Salles, que dirigiu a adaptação de ‘On the Road’ — de Jack Kerouac, concedeu uma entrevista ao site iG. Na qual ele fala sobre o filme, sobre a geração e cultura beat, além de falar sobre Kristen. “On the Road” chega aos cinemas brasileiros dia 13 de Julho. Confira:


Depois da exibição de “Na Estrada” no Festival de Cannes, de onde saiu sem nenhum prêmio, o Brasil será o quarto país a estrear a adaptação da bíblia beatnik escrita por Jack Kerouac, no próximo dia 13. Em conversa com a imprensa nesta segunda-feira (02), o diretor Walter Salles, acompanhado da atriz Alice Braga – Kristen Stewart, Viggo Mortensen e todo o elenco internacional não compareceu –, comemorou o fato de o filme já ter acumulado 500 mil espectadores. Um final feliz para um projeto que demorou mais de meio século para sair do papel.

Isso porque se fala de uma adaptação desde a publicação do livro, em 1957, mas nenhuma conseguia sair do papel. Francis Ford Coppola comprou os direitos no final dos anos 1970 e, depois de um entra-e-sai eterno de equipe, encontrou no cineasta brasileiro a solução.

Questionado sobre a responsabilidade de assumir um longa-metragem que adapta um livro que é ícone da contracultura norte-americana, Salles pareceu tranquilo com a missão. “Tinha tido essa experiência antes em ‘Diários de Motocicleta’ (sobre as viagens de Che Guevara pela América do Sul na juventude), já que não sou argentino nem cubano.”

Fã de “Pé na Estrada” (nome que “On the Road” ganhou no Brasil, traduzido por Eduardo Bueno), o diretor afirmou que sua vida se divide entre antes e depois de lê-lo. “Nada antes tinha me falado de forma tão direta. Aqueles personagens sedentos por liberdade em todas as formas, sexual, de drogas, movimento… Ele demarca a transição de um estágio próprio da juventude antes da fase adulta. Tínhamos a mesma faixa etária, mas era de uma cultura que não a minha.“

Talvez por isso ele tenha feito uma ressalva na sequência: “Adorar um livro não é passaporte suficiente para se fazer uma adaptação. Por isso fiz o documentário: para ler mais, conhecer mais, ir mais além. Só consegui encarar o filme depois disso.”

Salles se refere a “Searching for On the Road” (em busca de ‘Na Estrada’, na tradução), ainda em fase de edição, em que refez, antes das filmagens, o percurso de Kerouac da costa leste norte-americana para a oeste e entrevistou celebridades e sobreviventes da geração beat, como, por exemplo, os poetas Lawrence Ferlinghetti e Gary Snyder. “Foram as pessoas de 80 anos mais jovens que já vi. Eles ficaram em sintonia com o que acreditavam quando tinham 20 anos. Foi muito instigante.”

Ao mesmo tempo, a viagem serviu também para descobrir que o interior dos Estados Unidos retratado por Kerouac não existe mais. “Rodávamos centenas de quilômetros e víamos os mesmos shoppings e cadeias de lanchonetes“, disse o diretor, que precisou filmar no Canadá e Argentina para simular as paisagens de época.
“Está no coração de ‘Pé na Estrada’ desbravar a última fronteira da América, o oeste – não é à toa que o gênero fundamental do cinema norte-americano é o western. Mas desde aquela época o livro servia também para retratar o fim da expansão de territórios. Por isso é um pouco também sobre o fim do sonho americano.”

Com relação à influência da cultura beat no mundo atual, Salles defendeu que nenhum movimento dura para sempre, mas se traduzem para outras formas. “Quando Bob Dylan leu ‘Pé na Estrada’ na juventude, pegou a mochila e saiu de casa. Alguém pode ter ouvido Dylan mais tarde e ter feito a mesma coisa. Pode estar dentro da gente e nem sabemos disso.”

“O livro tem esse aspecto impactante de viver as coisas na pele, em primeira pessoa“, continuou. “Hoje nos comunicamos de maneira muito impessoal, SMS, telefone… (O poeta) Gary Snyder me falou: ‘Fazíamos mil quilômetros para ter uma boa conversa, aprender alguma coisa’. Acredito que a experiência desenvolve o raciocínio crítico, e só com ele se consegue entender o mundo e agir sobre ele. O ato de experimentar cada momento como se fosse o último – é disso que o filme fala.”

Com uma pequena participação no filme, em que interpreta uma namorada de Sal Paradise (Sam Riley, alterego do autor), protagonista da história ao lado de Dean Moriarty (Garrett Hedlund), Alice Braga concordou com o diretor.

“Acho que o que os personagens vivem no filme é o que falta na minha geração. A gente vive de uma maneira muito protegida, não se propõe a encarar o desconhecido, em procurar algo que instigue. Espero que o filme inspire isso.”

A brasileira foi só elogios ao comentar a atuação de Kristen Stewart, que, prestes a se despedir da “Saga Crepúsculo”, fez em “Na Estrada”, aos 22 anos, um de seus primeiros trabalhos de temática adulta. “Kristen é uma atriz muito completa, muito além de ‘Crepúsculo’ e outros filmes teen, e busca por coisas diferentes, o desconhecido.”

Salles escalou Kristen para o papel ainda em 2005, depois de ouvir o compositor Gustavo Santaolla e o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu (“Babel”) destacarem o trabalho da atriz, na época com 16 anos, em “Na Natureza Selvagem”, de Sean Penn.

O diretor louvou a “fidelidade” de Stewart com o projeto, mesmo depois do “boom” de “Crepúsculo” e sua garantia de salários milionários (o que não foi o caso de “Na Estrada”), e já deu uma pista de seus próximos trabalhos. “Ela me contou o que quer fazer e são todos filmes na contramão. Bilheteria não é uma preocupação dela.”

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